NOTÍCIAS DE VALERIE

Após a passagem desastrosa da empresa Dragão pela cidade de Jean, recordo bem que tudo ficou ao avesso, muitas ruas esburacadas, montanhas de detritos acumulados, equipamentos gigantescos abandonados, além da instalação de uma forte crise social com o fechamento de comércios e serviços. O Prefeito foi logo deposto sendo acusado de irresponsabilidade e o seu vice, um sujeito igualmente despreparado, assumiu a gestão naquela situação ímpar. A Cidade entrou em estado de calamidade e recebeu ajuda das esferas federais para a sua reconstrução. Em pouco tempo se instalou uma empresa para realizar os serviços de recuperação de tudo que havia sido destruído, inclusive, com a reconstrução de barragens, retificação de rios, reparos de ruas e estradas, e muitos outros serviços. Na equipe da empresa contratada estava o Engenheiro inglês que se casou com Valerie chamado John. Ele foi incluído na equipe por conhecer bem a cidade, pois já havia trabalhado ali em outras ocasiões. O engenheiro, contumaz cliente de Cajarana foi lhe fazer uma visita. Após o reencontro, John relatou sobre sua vida com Valerie, e sua recente separação. Ela havia se juntado a um circo para seguir a carreira de acrobata. Mas, ele dizia estar bem, e salientava, que não tinha tinha tempo para perder com sentimentos inúteis, a vida sempre deveria seguir, afirmava. Naquela mesma noite, o guerreiro John conheceu outra garota do estabelecimento e se tornou dali em diante um cliente fixo. Após o reencontro bombástico, Cajarana foi pessoalmente à fazenda de Jean lhe contar as novidades. Após a conversa, Cajarana voltou com a missão de marcar um encontro entre John e Jean. Ansioso por notícias, Jean, na hora marcada, foi ao bordel de Cajarana para o esperado encontro. Jean apenas comunicou sobre sua amizade com Valerie e que simplesmente queria saber notícias dela. John brevemente comentou a respeito da vida feliz ao lado da sua ex-mulher, e, que apesar da inesperada separação, estava bem, a vida segue em frente, repetia. John narrou que Valerie entrou numa escola de arte circense se especializando como acrobata, conseguindo, em pouco tempo um trabalho num circo. Este foi o motivo da separação, John não poderia largar o seu emprego para seguir com sua esposa na vida nômade e aventureira do circo. Jean não conteve a curiosidade e questionou qual o circo em que ela estava trabalhando. A resposta foi um famoso circo de alcance mundial especializado em apresentações acrobáticas do tipo ações em cordas, lençóis e torres humanas, dentre outros movimentos. Por fim, soube que aquele circo fazia uma turnê no Leste Europeu. Aquelas notícias fervilharam na cabeça de Jean. Depois do encontro, ele passou dias pensando no que iria fazer, uma viagem a Europa poderia significar o esperado reencontro, mas, por outro lado pensava que Valerie poderia não retribuir ao seu sentimento. Enfim, foi um período de muitas elucubrações. A conclusão foi, pelo menos naquele momento, de deixar tudo como antes, a busca poderia resultar em nada. A missão de recuperar a sua cidade seria prioridade na sua vida a partir dali. Um sossego desanuviou sua alma por saber onde Valerie estava e o que ela fazia na vida. Ela devia estar feliz e muito bem, tinha como certeza. Durante os serviços de recuperação, a cidade passou por uma onda de calmaria. Não houve mais desenhos nas plantações, nem ações do papa cabra, nem nada mais que pudesse alterar a vida naquela localidade. Jean decidiu sair da Ordem comunicando a decisão aos seus superiores. Como as eleições municipais se aproximavam, Jean resolveu entrar de alguma forma na política. Ele estava seguro que poderia fazer muito por sua cidade. Naquele período, Jean passou a ter sonhos constantes com Valerie. Neles aconteciam reencontros de diferentes formas, sempre tendo um circo como pano de fundo, mas, sempre concluindo em desencontros e situações surreais que o deixavam angustiado. Ao acordar ele tinha uma enorme vontade de buscar sua amada, onde ela estivesse, embora a racionalidade o orientasse na direção da calma e prudência. O tempo iria lhe indicar o caminho certo, pensava. Esse ponto da estória foi um divisor de águas. Ali, minha imaginação se junta à memoria para definir um rumo que não tenho a certeza que foi o da ideia original, mas, vou continuar escrevendo enquanto tiver vontade e energia de continuar a estória inacabada que um dia escrevi para esta personagem moldada na minha tenra juventude, e perdida nos caminhos da minha própria vida.