A FOSSA DO SARDINHA

Uma das coisas que me diverte neste pedaço de Atlântico é o bom papo com moradores das vilas de pescadores. É só chegar ao barzinho simples e puxar conversa. O mote é dado de acordo com o que se quer escutar. Por exemplo, gosto muito de saber das estórias das pescarias em alto mar, das ondas, das tempestades, dos peixes e das criaturas avistadas.Depoimentos falam de seres que nadam ao lado dos barcos e em algumas situações subiram e se comunicaram mentalmente com os pescadores. Certo dia, um deles me falou que chegou a visualizar uma cidade submarina com muitos prédios, naves e moradores. Também, é frequentemente visto luzes fazendo movimentos no céu subindo ou mergulhando no mar. Houve um caso de socorro feito pelos seres do mar a uma embarcação que estava afundando. São muitas estórias fantásticas que animam a minha imaginação e me faz ter vontade de participar de uma dessas pescarias, e quem sabe eu não venha a vivenciar alguma experiência que me leve para perto destes indomáveis aventureiros. Certo dia, aventurei-me numa pescaria em alto mar. Juntei-me a três pescadores tarimbados em adentrar o oceano atlântico e passar alguns dias pescando. O barco era de tamanho médio com um motor de popa e uma cabine onde estava instalado o timão. Havia um compartimento no interior do barco onde havia um espaço com camas, isopores, mantimentos e uma estante. Aquele espaço interno era para a guarda de todo o pescado e um espaço para dormir. Na saída do pequeno trapiche o barco foi lentamente se afastando da praia e em poucas horas estávamos longe. Era hora de iniciar a pescaria, assim, foram distribuídas iscas em torno do barco e ficamos esperando recolher os peixes capturados pelos anzóis. Tudo estava correndo muito bem. Os peixes foram apanhados em boa quantidade. O tempo passou e de repente era noite. A temperatura começou a cair e era hora de colocar um casaco e tomar um café quente. A noite estava maravilhosa. O firmamento apresentava as suas estrelas e eu podia ver um satélite artificial percorrer o céu. Era realmente muito bonito. Eu estava extasiado com tamanha beleza, o universo estava dando um show. As horas passaram e era hora de dormir. No dia seguinte, ao nascer do sol nos acordamos com o forte calor sentido no cômodo embutido do barco. Tomamos um café da manhã com café, pão e manteiga. O barco seguiu para mais longe do mar. O Mestre Jonas disse que a pescaria daquele dia seria numa área mais distante da costa. Seguimos por algumas horas e chegamos a um lugar chamado de fossa do Sardinha. Perguntei a origem do nome e soube que naquele local um pescador chamado Sardinha havia mergulhado e descoberto um grande buraco de formato circular com cerca de uns cem metros de diâmetro. Mestre Jonas localizou aquele lugar pela mudança de coloração das águas. O estranho é que o pescador Sardinha voltou ali e mergulhou para nunca mais voltar. A lenda reza que o pescador Sardinha aparece de tempos em tempos, volta a Vila, conversa com velhos amigos e retorna a sua morada no mar, como ele a define naqueles encontros. Realmente a pescaria naquele local foi muito bem sucedida. Na volta, Mestre Jonas me mostrou a bússola que não funcionava direito, pois não apontava para o norte como habitualmente. Não havia um motivo que explicasse aquele fenômeno. Era preciso afastar-se por algum tempo para a bússola voltar ao normal. Confesso que a desorientação da bússola me deixou assustado, mas confiei na experiência dos companheiros e voltamos à praia com muito peixe. Ganhei alguns e passei um bom tempo sem precisar comprá-los. A estória do pescador Sardinha me deixou curioso. Seria muito bom conversar com ele e conhecer o seu segredo.