O CASTELO DE BLUJABU

Essa narrativa começa numa década fantástica, num ano mágico e num dia especial. O local é o bar Taboleiro da Baiana, situado numa rua de comércio, serviços e boemia de uma cidade encantada, na sua região ribeirinha. Naquele bar se reuniam intelectuais, poetas e pessoas comuns para beber, comer e desfrutar da vida singela e feliz daquele lugar abençoado pelo sol, rio e mar. Assim numa atmosfera de aconchego e felicidade eram servidas iguarias deliciosamente acompanhadas por uma bebida a gosto do freguês. O movimento começava cedo em volta das onze horas da manhã e suas atividades encerravam com o último cliente. Assim, numa dessas manhãs estavam lá reunidos os jovens Lula, Lamare, Navarro, Didi e Gui. Lula mostrando suas poesias, Lamare declamando as suas glosas fesceninas, Didi falando dos seus planos para a cultura da província, Navarro falando dos movimentos estéticos do país, Gui falando das suas novelas e de outros autores. De repente apareceu o amigo comum Castilho e repassou a convocação feita por Zé Naldo para a presença de todos na inauguração do seu Castelo na praia de Blujabu. A reação foi imediata. Todos estariam presentes àquele feito. Mas como iremos? perguntou Didi, já que o único caminho para alcançar-se aquela praia era pelo mar. Castilho respondeu que havia um barco especialmente preparado por Zé Naldo para levá-los ao seu Castelo. Todos caminharam estusiasmadamente até o trapiche que ficava no final da rua. Lá chegando, todos viram um belo barco com tudo pronto para uma viagem, tinha até tripulação. Um a um nossos amigos foram entrando no barco e se acomodando em alguns bancos de madeira e no piso da embarcação. Na verdade se tratava de uma jangada com uma vela no meio e a tripulação era formada por um único marujo de nome Chimbau, um tipo moreno, baixinho, ombros largos, cabeça redonda e usava um chapéu que parecia uma bola de futebol. Depois de todos acomodados, o comandante Castilho deu início a jornada e a jangada começou o seu trajeto. Ao chegar ao meio do Rio, foi vista uma nau francesa, e naquele momento foram disparados alguns tiros de canhão. De lá saiu um barquinho a remo com dois marujos e um comandante que logo se aproximou da jangada. Quem são vocês e o que fazem aqui? perguntou o comandante da Nau. Castilho contestou que estavam indo a inauguração do castelo de Zé Naldo na praia de Blujabu. O interlocutor se identificou como Jaques Rifoles, comandante francês, responsável pelo comércio com os indios locais de pau brasil e depois desejou boa viagem e mandou saudações para o comandante dos sonhos Sir  Zé Naldo. Após esse momento a jangada se afastou e seguiu sua viagem. A jangada, a pedido de Gui, seguiu para perto do mangue, onde se observava aquela riqueza de vida, peixes, siris e vegetação dominando o cenário. A vegetação repentinamente passou a sacudir e se formou uma pequena onda que chacoalhou o barco. Todos se seguraram para não cair no rio. Um monstro de lama de uns três metros de altura se aproximou berrando e fazendo gestos com os seus membros superiores. A mão direita com o punho fechado se dirigia a sua boca. Lamare entendeu que o monstro pedia cachaça e, foi-lhe lançada uma garrafa que imediatamente foi aberta e bebida. O monstro deu meia volta e adentrou as gamboas do mangue. Na chegada ao encontro do rio com o mar onde esta assentado a fortificação para defesa da cidade, ouviu-se tiros de canhão. Para a surpresa geral as balas foram vistas a poucos metros da jangada, eles estavam sendo atacados pelos soldados do forte. A única saída foi sair daquela área o mais rápido possível. Na pressa de escapar dos tiros de canhão a jangada tomou direção ao poço do dentão, local misterioso onde havia um redemoinho que atraia tudo ao seu centro. A jangada começou a ser puxada em sua direção. Mas, a tripulação bravamente remou e conseguiu se libertar da ação daquela força da natureza e seguiu o seu caminho. Do lado esquerdo do rio estava a praia da pontinha e era hora de um reforço alimentar. A jangada atracou no trapiche e a turma foi ao Mercado local comer a fina iguaria peixe frito com tapioca no bar de Dona Dalila, uma senhora que encantava a todos com a sua educação e gentileza. Após o lanche acompanhado por bebidas, a tripulação retomou o seu caminho em direção a Blujabu para o encontro com Zé Naldo. Agora, tomou-se o alto mar com a jangada para terminar o trajeto planejado. Passando-se uns trinta minutos de travessia, ouviu-se um canto feminino de muitas vozes. Ao longe, via-se um movimento no mar como o de golfinhos que se encaminharam até a proximidade do barco quando se pôde ver que eram sereias nadando. Elas se aproximaram e subiram na simples embarcação. Imediatamente as caudas se transformaram em pernas e ali estavam mulheres lindíssimas. Cada uma delas escolheu um dos rapazes que se encantaram com aquelas criaturas sedutoras. Quando Gui estava para dar um beijo, Didi alertou a todos que elas eram sereias e que estavam ali somente para acasalar, e, que depois da junção, os homens enfeitiçados mergulhariam atrás delas e morreriam afogados. Os rapazes evitaram as sereias e estas mergulharam no mar e desapareceram. Após o perigo, navegou-se por mais algum tempo e finalmente chegaram a Blujabu. A jangada desembarcou num local de águas calmas barradas por arrecifes. Castilho orientou a caminhada ao tão falado Castelo. Lá chegando, Zé Naldo recebeu o pessoal e apresentou a sua primorosa obra. A visão foi surpreendente. Todos viram um castelo maravilhoso com quatro torres e um portão no meio. Mas, na verdade, a construção era uma tapera de madeira com uma porta no meio e duas janelas. A porta era protegida por uma latada de palha de coqueiro. Havia um frondoso pé de caju em frente a pequena casa. Zé Naldo convidou a todos para sentarem nos troncos de coqueiros espalhados pelo chão. Ao se acomodarem, os seus amigos imaginaram estar sentados em confortáveis poltronas. Depois foi servido a todos cachaça e rum, e, para tira gosto foram colocados em latas de doce, cajás, umbus, mangas e cajus colhidos na hora. Todos consumiam o manjar dos deuses e bebiam como reis. Ao chegar a noite, era a hora do sono e a dormida foi em colchonetes de sisal ou em camas da madeira mais nobre, como assim achavam. A noite passou rápido e a manhã chegou. No café da manhã foi servido pão, tapioca, queijo e ovos. Um banquete matinal para recuperar as energias. Foi visto no horizonte um nadador se aproximando da praia que logo chegou e se dirigiu ao castelo. Era Anderson, que abraçou a todos e disse que veio participar da nobre inauguração, ele não podia ficar de fora de tamanho acontecimento. Um pouco mais tarde um avião monomotor cortou os céus e começou a dar rasantes na água e na praia. É minha filha, bradou Zé Naldo, que logo passou a orientar a aeronave a pousar no campo de pouso que era a praia. Antes do avião encerrar a aterrissagem, Anderson anuciou que iria casar com a filha de Ze Naldo chamada Angelmar. Assim se deu, no final do dia o padre alemão Rilke casava os dois, foi uma paixão fulminante. No final da tarde os intrépidos viajantes voltaram à cidade numa rapidez fenomenal e foram ao Bar Taboleiro da Baiana continuar a celebração que se estendeu até a noite.  O assunto foi o Castelo de Zé Naldo e lá marcaram um retorno em breve.