CINE OLD

Quem me dera assistir a mais uma seção do Cine Old e entrar no universo mágico da dimensão da cinematografia. Na sala daquele cinema passei por experiências espetaculares onde a ficção e a realidade se misturavam,  e eu podia adentrar a fantasia projetada na tela gigante e fazer parte de uma mistura de enredos construídos a partir de diferentes visões da vida de autores fenomenais. Naquele escuro mágico com a tela ao fundo eu vivia realidades distintas e distantes da minha, mas, podia aproveitar tudo o que se passava por mais longe que fosse da minha vivência provinciana. Pude adentrar ao mundo de sensacionais cineastas e participar virtualmente de aventuras, tramas e romances que marcaram profundamente a minha vida a ponto de eu um dia querer não sair de um dos filmes que vi, tamanha a qualidade do roteiro, a beleza dos cenários e da música, e do encantamento criado pelo seu diretor. Senti  a mais estranha das felicidades quando entrei no filme como uma personagem que se apaixonou pela personagem principal do filme, uma linda mulher envolvida em serviços humanitários apaixonada por um sujeito que beirava a ilegalidade nas suas ações de contrabandista de pedras preciosas. O meu papel era o de um médico voluntário num pais pobre que tratava feridos de guerra. A minha personagem se chamava John e sua participação no enredo era a de separar o casal fazendo com que Helen soubesse verdadeiramente quem era o seu amante chamado Greg. Numa viagem John e Helen voavam para um novo país para realizar assistência humanitária. No voo eles viajaram na mesma fileira e puderam vir conversando sobre o país ao qual se encaminhavam. O cenário apresentava os dois ocupando toda a tela, enquanto a música suave embalava e criava um clima de atração entre eles. Na chegada ao aeroporto, Helen desce do avião por uma escada e corre em direção a Greg para depois serem vistos no centro da tela num beijo apaixonado. A próxima cena mostra John e Helen trabalhando num campo de refugiados até a chegada repentina de Greg que a toma pelo braço e a leva a outro ambiente. Nesta tomada Greg pede Helen em casamento e a convida para morar na Itália. Após o convite John é mostrado em situação de desespero, pois, havia ouvido a conversa. Naquela altura eu já estava completamente envolvido no filme e minhas emoções eram a da personagem. Pensei em sair daquele delírio, porém, não tinha como fazê-lo, eu estava preso a dimensão cinematográfica  e teria que chegar ao final para voltar a realidade. Logo após, Helen descobre os trabalhos escusos de Greg encontrando um pacote de pedras num dos bolsos do paletó pendurado num cabide. A cena do rompimento entre eles foi muito forte, com música de suspense e uma conversa que terminou num sonoro adeus dito por Helen. Assim, o campo ficou aberto para John que conquistou a mocinha do filme contando a sua vivência como médico de causas humanitárias e suas experiências pelo mundo. Sabendo do novo romance, Greg resolveu dar um fim aquele relacionamento e numa cena marcante ameaçou John de morte se ele não abandonasse o país. A saída de John foi convidar Helen a fugir para um país tropical onde os dois viveriam e seriam felizes para sempre. Helen topou a proposta e os dois fugiram em um pequeno avião após uma cena de perseguição com carros em velocidade, gritos e tiros. No final do filme estavam John e Helen num pais tropical banhado pelo Atlântico trabalhando em causas sociais e vivendo uma vida repleta de felicidade. Os dois moravam num belo bangalô à beira mar. A cena final foi um passeio pela praia com uma cena de beijo até o filme ser encerrado por um "The End". A felicidade era tanta que eu não queria voltar à realidade. Portanto num passe de mágica fui arremessado a minha poltrona e lá acordei do sonho abandonando a dimensão cinematográfica e voltando ao mundo real. Fiquei observando os letreiros procurando pelo meu nome, mas nada encontrei. Foi um belo delírio. Guardarei para sempre Helen em minhas memórias e imagino um dia poder reencontrá-la num novo mergulho à dimensão cinematográfica.