JEAN CONTRA O DRAGÃO

Jean ficou triste com o fim do Templo da Ordem na sua cidade. O prédio antes iluminado, vistoso e repleto de símbolos esotéricos, passou de uma hora para outra, a ser um lugar comum, e, ainda, um tanto inadequado para outros fins, devido a sua concepção de grandes espaços internos. Uma reforma seria necessária para dar qualquer destino àquela bela edificação. O telhado de vidro de forma piramidal no centro da cobertura foi substituído por telha comum, tirando o encanto dos raios de luz lançados para o céu nas noites escuras. A iluminação interna, antes natural passou a ser artificial, o que retirou do local aquele aspecto especial conferido pelos raios de sol a riscar os espaços internos. A edificação majestosa quase que desapareceu na paisagem de serras e muita vegetação. Os moradores da região esqueceram o belo prédio, e a cidade perdeu visitantes que animavam a vida local. O amigo Cajarana se queixou que perdeu clientela com o fechamento do Templo da Ordem. Em pouco tempo a cidade entrou numa decadência de dar dó. O fechamento do Templo somado as aparições dos enormes desenhos nas plantações e aos animais mutilados pelos chamados  papa cabra, prejudicou a economia na região. Jean nesse meio tempo cuidava da sua fazenda e dava aulas na escola municipal dentro do prazo dado pela Ordem para que ele pensasse sobre o seu futuro. Certo dia chegou uma visita de um Representante da Ordem, convidando-o para ir trabalhar na Cidade de Londres, só que dessa vez foi concedido um prazo exíguo. Depois de pensar muito sobre aquela possibilidade, Jean resolveu atender ao convite. Em pouco tempo preparou sua viagem e deixou um gerente cuidando da fazenda, despedindo-se de todos prometendo um retorno em breve. A instalação de Jean em Londres aconteceu, dessa feita, em boas condições, tendo um salário que lhe permitiu morar confortavelmente num local excelente. A sua principal função era a de administrar a Ordem naquele país, organizando encontros e reuniões com membros do mundo inteiro, função a qual ele já estava acostumado e fazia brilhantemente. No seu íntimo, ele alimentava uma esperança de encontrar Valerie naquele país, já que ela havia se casado com um Engenheiro Inglês. Naquele período uma empresa mineradora chamada Dragão se instalou na Cidade de Jean e comprou largas faixas de terra. Em alguns meses foi montada uma estrutura de garimpagem composta por esteiras, acessos, máquinas escavadeiras, enormes caçambas e muita gente trabalhando. De uma hora para a outra a cidade passou a ser vítima da mineradora que causava impactos assustadores com constantes explosões, muita poeira e um tráfego gigante de veículos a cruzar a cidade. O Prefeito ficou entusiasmado com os novos tempos, pois, a partir dali começou a aumentar o recolhimento de impostos, e, não colocou empecilhos para o funcionamento de uma estrutura tão danosa ao meio ambiente. A última etapa do projeto da mineradora foi a construção de uma lagoa de acúmulo de detritos. Como a estrutura da mineradora estava situada nos arredores, todas as consequências da atividade mineradora eram sentidas na Cidade. Havia constantemente muito tráfego de veículos, sons de explosões e muita poeira por todos os lados. A atividade agropecuária dominante no Município passou a ficar prejudicada com tamanho movimento, inclusive, com prejuízos nas lavouras e mortandade de animais de criação. Fora do Brasil, Jean tomou conhecimento do que se passava na sua cidade, sendo a gota d’água para a sua volta a informação dada pelo seu gerente que líquidos provenientes da lagoa de detritos da mineradora estavam invadindo a barragem da sua fazenda. Era hora de voltar e verificar o que estava ocorrendo. Na volta, Jean após ver a novidade de perto e perceber todo o problema causado pela mineradora, procurou o Prefeito para saber o que estava acontecendo. O prefeito prontamente recebeu Jean e na maior felicidade disse que enfim o progresso havia chegado. Com os impostos a cidade iria melhorar muito, o tempo de uma vila rural havia acabado, concluiu. Jean após entender todo o estrago que a mineração havia causado resolveu ficar para lutar contra aquela situação. A Ordem foi avisada da sua Decisão e Jean foi temporariamente liberado, após cumprir todo um ritual necessário para situações como essa. Na liberação um Mestre da Ordem superior prometeu que iria agir para resolver aquela questão. Jean agradeceu a deferência e disse que iria lutar para reverter aquela situação preocupante. Jean buscou todos os caminhos que poderiam ser possíveis a fim de resolver ou minorar o problema. A resposta mais comum que ele ouvia por onde passasse, era que a mineradora iria melhorar a vida de todos gerando impostos e empregos. Após algum tempo de luta inglória, misteriosamente, começaram a reaparecer na região os famosos crops ou desenhos nas plantações. Num ritmo surpreendente, quase que diariamente apareciam novas marcas nas plantações, trazendo o olhar do país para aquela cidade. Dessa forma, a imprensa passou a dar cobertura àqueles acontecimentos inusitados, e, em todas as televisões e jornais apareciam notícias dos desenhos gigantescos nas plantações. Com a constante presença da imprensa, veio a tona o enorme desastre ambiental causado pela mineradora, fato, que causou grande repercussão e atuação dos Órgãos nacionais de controle ambiental e social. Em pouco tempo, a mineradora foi interditada, sendo solicitadas providências para adequar às exigências técnicas que permitisse o seu funcionamento. O resultado disso foi o fechamento da mineradora. Soube-se depois, que ela foi se instalar num país vizinho. O menos grave é que a mineradora foi obrigada a fazer a recuperação ambiental da área. Jean voltou à Ordem e comunicou a todos sobre a solução dos graves problemas da sua cidade. O mestre superior em público reconheceu o notável trabalho de Jean e salientou que a causa abraçada foi uma vitória de todos. Com os seus botões, Jean imaginou que os desenhos nas plantações poderiam ser uma obra da Ordem, fato nunca confirmado, mas ficou a dúvida no seu pensamento.