CIDADE DOS ESQUECIDOS
O local era árido e havia muitas serras com formatos variados. O calor estava insuportável e era hora de parar e tomar um pouco de água, mas, onde buscar tão precioso líquido naquela terra quase desértica. Era uma situação desesperadora, sofri um desastre aéreo pilotando um avião monomotor quando seguia para uma cidade do interior do estado. A aeronave entrou em pane e o motor parou de funcionar, fazendo com que eu aterrissasse no primeiro descampado. Todos os aparelhos ficaram danificados e eu realmente não sabia onde estava. Apenas segui a intuição e segui em frente. Com uma bússola resolvi tentar o norte magnético em busca de achar alguém que me desse socorro. A noite chegou e eu resolvi parar. Procurei um local adequado e encontrei uma rocha no formato de uma esfera irregular para tentar fazer uma proteção para que eu pudesse passar a noite. Busquei lenha para fazer uma fogueira e encontrei muitos galhos secos. Acendi o fogo e fiquei por ali. No início fiquei pensando o que fazer e estava com muita sede. O cansaço bateu e eu pensei em dormir. Começava a esfriar e a temperatura caiu consideravelmente. A noite estava muita escura e dava para ver as estrelas no céu como há muito tempo eu não as via. O sono chegou e eu dormi profundamente. No amanhecer acordei e havia na rocha água condensada durante a noite. Com a mão recolhia a agua na pedra e lambia aquele liquido tão necessário a nossa sobrevivência. Para a minha sorte escutei um barulho e vi um homem montado a cavalo passando a uns cem metros de onde eu estava. Gritei desesperadamente por socorro e fui escutado por aquela pessoa que veio em minha direção. Expliquei minha situação e ele me levou para a sua casa no seu cavalo. A casa estava assentada na beira de um lago e logo recebi água para beber e alimentos. A água estava limpa e matou minha sede. Para comer tive um banquete com carnes, cereais e frutas. Comia olhando para uma linda paisagem composta de muita água cercada por montes rochosos que davam um encantamento ao local. Perguntei qual a cidade que estávamos. Como resposta escutei que aquela era uma cidade dos esquecidos. A principio achei que fosse uma brincadeira, e, fui levado por um senhor de cabelos e barba brancos a um quarto onde havia uma cama com um travesseiro de penas e um lençol branco. Agradeci a atenção e fui descansar. O sono chegou rápido. A dormida da noite passada não tinha recuperado as energias e eu tinha que descansar. Acho que dormi por muito tempo e acordei na manhã do dia seguinte. Perguntei como poderia sair dali e soube que a única saída era pelas águas do lago. Mestre Jonas, como ele se apresentou, disse-me que aquele lugar era um dos pontos intermediários entre a dimensão onde vivemos e dimensões superiores. Questionei se eu havia morrido no acidente. A resposta apavorante foi a seguinte: este é um lugar de escolha entre continuar vivendo ou seguir para a vida eterna. Eu estava confuso e não acreditava naquela situação. Mestre Jonas esclareceu que escolheu aquele lugar para passar a eternidade. Comecei a achar que tudo aquilo fosse uma grande brincadeira, mas continuei escutando o depoimento do meu novo amigo que explicou que chegou ali depois de sofrer uma forte dor no peito após passar por uma situação de estresse causada pelo trabalho. Ele era o diretor de uma empresa com mais de mil funcionários. Aquele local lhe devolveu a paz e lá ele vive o que sempre procurou. No meu caso eu me sentia bem, não havia danos físicos e eu tinha vontade de voltar para a minha casa de praia e continuar minha vida normalmente. Escutei que a volta seria pelo lago. Eu simplesmente tinha que mergulhar nas suas águas e pensar no local onde eu de verdade queria ficar. Fomos à beira do lago, caminhei um pouco e acenei para o mestre Jonas seguindo em direção à água. Fui aos poucos entrando na água e sentindo minha roupa se molhar. Quando a agua estava na altura do meu ombro, baixei a cabeça e fiquei completamente submerso. Após essa sensação acordei num hospital onde me recuperava do acidente. Recebi algumas visitas que me aconselharam a deixar de ser um piloto de fim de semana. Acho que o que passei foi um sonho, mas, foi muito real. Certo dia vim a conhecer um local com uma paisagem parecida com aquela que conheci na experiência imaginária pós traumática e fiquei encantado com tamanha beleza. Ao longe vi um homem passeando a cavalo na beira do lago. Será que aquele cavaleiro seria o mestre Jonas?