A PEQUENA PONTE

Na minha cidade existe uma pequena ponte que a lenda diz que é mágica. Hoje ela está assentada numa praça da cidade e está linda, intocada, mas não tem mais a sua função original de travessia de um pequeno riacho que foi aterrado com o passar dos anos. Os moradores antigos dizem que naquele riacho as pessoas lançavam moedas e faziam pedidos, e, com bons resultados, segundo os mais entusiasmados. Há depoimentos que relatam  o desaparecimento de pessoas quando atravessavam a pequena ponte, como também há outros relatos que contam que outras surgiram do nada numa das suas extremidades. É realmente um mistério que me intriga. Em um antigo livro li que o local onde a ponte se situa até hoje era também uma praça nos tempos antigos, onde havia bancos, árvores e um coreto onde bandas de música tocavam magnificas retretas, de acordo com o primoroso texto histórico, que encantavam aos que ali frequentavam. Era realmente um lugar encantador onde amores começavam e relações eternas se afirmavam. Ali era o local preferido da antiga cidade. Havia nas redondezas bares, cafés, restaurantes, lanchonetes e sorveterias onde a população se dirigia nos dias de calor para se refrescar. Até hoje, há encanto no ar, onde árvores centenárias, palmeiras, construções antigas e modernas convivem num ambiente harmonioso. É lá que gosto de passear e admirar a parte antiga da cidade. Às vezes atravesso lentamente a ponte e procuro sentir as vibrações emanadas daquela estrutura secular. Sento num banquinho e fico olhando a praça e escutando o barulho da cidade que parece com a melodia de uma bandinha tocando músicas animadoras da alma. Uma estória que escutei num café contada por um senhor de idade avançada me chamou a atenção. Ele disse que a ponte é capaz de transportar pessoas no tempo para a época ou idade desejadas. Falou que no abrigo para idosos onde ele vive, existe o rumor dessa possibilidade, e, que alguns dos seus moradores já fizeram esse passeio. Essa ideia é fortemente amparada, porque somente se comunica o desaparecimento de alguns dos seus colegas, não havendo cerimônia fúnebre. Esses desparecimentos são associados ao aparecimento de crianças de cerca de 10 anos que parecem surgir do nada e são encaminhadas a instituições apropriadas. No contexto da pequena ponte, ouvi falar de uma mulher vinda do passado e que estava albergada numa clínica psiquiátrica. Essa mulher tinha cerca de 30 anos, se chamava Mary, e, segundo ela, atravessou quase um século pela ponte. Após conhecê-la, ela me disse que num certo dia ao anoitecer atravessou a ponte e quando deu por si estava nesta década. Ela procurou a casa onde morava e não a encontrou. Ali existia um prédio de apartamentos. Procurei saber do dia exato do acontecimento e soube que havia sido na década de 1930. Embora o depoimento da Sra. Mary parecesse real, era ainda difícil aceitar aquele fato como realidade. Percebendo o meu interesse pelo assunto, a Sra. Mary pediu para que eu a levasse para a pequena ponte, pois a lua cheia daquela noite seria o seu passaporte para o passado. Ela disse que quando foi deslocada do seu tempo, a lua estava com uma claridade nunca vista. Realmente aquela noite seria o Perigeu Lunar. Por precaução fui com a mulher do passado e um funcionário da clínica onde ela estava internada para servir de testemunha, caso ela desaparecesse numa possível volta ao tempo. No nascer da noite fomos à pequena ponte. A lua estava nascendo. Realmente estava com um tamanho notável, muito bonita. Na ponte fiquei com o funcionário da clínica numa extremidade enquanto a Sra. Mary caminhou na sua estrutura e desapareceu aos nossos olhos num passe de mágica. No dia seguinte a Sra. Mary veio me visitar. Ela estava com cerca de noventa anos e contou o seu retorno à vida normal. Ela visitou o hospital e relatou o que aconteceu. O seu prontuário foi arquivado e sua história se transformou numa lenda num estabelecimento para tratar a saúde mental. A Sra. Mary ainda está viva e sempre procuro visitá-la. Ela está bem e é testemunha dos poderes da pequena ponte. Certamente existem outras estórias ligadas à pequena ponte da antiga praça, e, vou buscar conhecê-las.