PAREIDOLIA

A praia é um lugar fértil para exercitar a imaginação. É fácil olhar para cima e admirar as mais diversas figuras formadas nas nuvens. As dunas de areia tomam formas incríveis, podendo-se ver animais, barcos, rostos e muito mais. Alguns pescadores veem figuras estranhas no mar. São depoimentos relatando visões de monstros marinhos, baleias, vórtices, sereias, etc. Mas, tudo isso tem uma explicação racional. É a chamada pareidolia, um fenômeno psicológico envolvendo estímulos vagos e aleatórios em imagens ou sons, sendo percebido como algo com significado. O cérebro incansavelmente procura padrões conhecidos em todos os lugares, identificando, principalmente, aquilo que se quer ver, mesmo que de forma inconsciente. Os católicos costumam ver a imagem da Virgem Maria em vidraças embaçadas. Um protestante talvez nunca viesse a reconhecer tal imagem. Um ufólogo pode ver discos voadres facilmente no céu. Nesse contexto, extraem-se, comumente, imagens com significados concretos em florestas, montanhas, solos e outros lugares. Esse fenômeno também ocorre com sons, e em muitas vezes se escutam palavras faladas pelo vento. Muita gente escuta do nada os seus nomes sendo chamados. Esse reconhecimento irreal é uma característica presente em todos nós, reconhecendo-se rostos em formação de luz, sombra ou objetos que sustentem linhas elementares da face humana. Entretanto, esses arranjos, que o nosso cérebro identifica, podem ter significados extraordinários do ponto de vista de exercícios de entendimento dos nossos dons extra-sensoriais e da projeção das nossas crenças em um meio externo. Essas formações podem ser entendidas como sonhos acordados moldados em superfícies maleáveis que se adequam aos impulsos criativos da nossa mente. Essa explicação heterodoxa para o citado fenômeno se adequa a aparição de espectros formados para determinadas pessoas com fortes crenças pessoais, a exemplo da aparição de uma diversidade de figuras em locais inapropriados como troncos, rochas, mata, etc. Nessa linha de ideias, acredita-se que o desenho da borra formada pelo café no fundo da xícara pode ter o poder de revelar fatos sobre o futuro de quem bebeu o seu conteúdo. A leitura da borra é chamada de Cafeomancia, constituindo certamente numa forma de projeção do nosso inconsciente. Num passeio pelo Rio Grande avistei numa de suas gamboas, na altura do tronco da vegetação do mangue, várias imagens de guerreiros indígenas com lanças na mão. Era como se eles estivessem a caminho de uma guerra. A lenda conta que aquelas figuras foram talhadas na vegetação por índios com a finalidade de assustar os invasores europeus. Houve uma estória relatando que um barco com marujos se dirigiu às imagens para acabar com os falsos guerreiros, no entanto, foram mortos misteriosamente numa repentina tempestade que elevou o nível do rio e virou o barco. Conta-se que esse acontecimento, gerou a aparição de chamas azuladas formando vultos humanos. Escutam-se, junto àquelas visões, sons assombrosos lembrando lutas e gritos de horror. Ao longo do tempo, muita gente foi testemunha daquela assombração e a entenderam como pura verdade. Aquela área do mangue é considerada assombrada e é evitada por pescadores, mas, sempre se escutam relatos de alguns que adentram o mangue para pescar siris e caranguejos e são assombrados por fantasmas do passado. Conta-se que os guerreiros presos na vegetação do mangue, em algumas noites se libertam dos troncos, e lutam ferozmente com marujos invasores até que haja um vencedor naquela batalha de séculos. O curioso é que um dia navegando por aquele local tive a impressão de ver guerreiros indígenas caídos moldados na raiz de algumas plantas do mangue. Essa pareidolia me fez crer que houve baixas nas eternas batalhas do mangue, será?