ANDY

Conto esse episódio após reconhecer um astro de rock internacional de tempos passados na praia onde moro. Começo narrando o rápido declínio do líder de uma famosa banda de rock acontecido há algum tempo. Conta-se que aquela figura em pouco tempo passou a ficar com uma aparência física cada vez mais frágil. Sua magreza dava nos olhos e ele ficou quase que irreconhecível. O que sobrava dele era o seu cabelo grande passando dos ombros num corte muito próprio. Seu rosto afinou e os ossos da face ficaram praticamente à mostra. Suas aparições antes constantes na TV e revistas especializadas passaram a ser cada vez menores, e, naquelas ocasiões comentários sobre a sua saúde eram inevitáveis. Ele dizia que estava muito bem e, que logo estaria na plenitude como ser humano. Os boatos do seu envolvimento com álcool e drogas eram constantes, mas, o astro pop negava o que ele chamava de mentiras. Com o passar do tempo ele sumiu de vez, fato que aumentou as especulações sobre a sua saúde. Corria um boato que no final de um show ele desapareceu no ar. Essa estória não foi confirmada pelo seu grupo musical, no entanto, depois daquilo ele saiu de cena. O pessoal disse que o astro se recolheu a meditação e ao estudo da alma. Ele se queixava da vida cansativa e sem limites que levava. Na época, o seu desaparecimento causou um burburinho mundial, todavia, mesmo sem sua presença, sua banda nunca foi tão falada mundo afora e os shows continuaram. Um substituto subiu ao palco e a vida continuou para o grupo. Antes do seu desaparecimento definitivo, falou-se que o lider da banda foi visto na Índia praticando meditação e outras atividades transcendentais. Dizem até que ele foi visto ao mesmo tempo em dois locais. O primeiro num show em Londres e o segundo no Tibet. Aquela ocasião foi registrada por fotógrafos, inclusive, numa revista mundialmente conhecida, que mostrou uma foto do artista nas montanhas e outra em pleno show. Na verdade eu era um grande fã da banda na qual Andy fazia parte, e, assim estava sempre sabendo das novidades do grupo. O que se dizia era que o astro de rock sumido estava recluso e a qualquer hora voltaria. Os anos foram passando e o grupo de rock continuava fazendo seus shows sempre com muito sucesso. Na praia onde moro havia um pequeno bangalô quase sempre fechado, mas de uma hora para a outra, passou a ser utilizado, recebendo frequentemente convidados considerados estranhos pelos nativos. Os hóspedes geralmente chegavam de lancha e se dirigiam até lá levados pelo nativo Mané. Não era de admirar-se, pois ele era um cara que passeou pelo mundo e falava alguns idiomas entre eles o inglês e o francês. Os visitantes, como eram descritos, usavam cabelos compridos e umas roupas folgadas e coloridas. O morador fixo do bangalô caminhava com frequência pela praia, ele praticamente só fazia isso naquela localidade. O cicerone Mané era um velho conhecido, disseram até que ele foi assistente de produção de um famosa banda de rock, fato nunca confirmado. Aqueles acontecimentos inusitados faziam minha imaginação ferver, já que sempre acreditei no inimaginável. Devia haver uma estória curiosa para que eu pudesse registrar nos meus escritos surreais. Algum tempo passou até eu observar de longe um tipo longilíneo com os cabelos louros muito lisos passando dos ombros usando uma calça cinza de algodão e sem camisa. Naquele momento eu quis conhecer aquela pessoa e cheguei bem perto. A poucos metros reconheci o super astro Andy passeando pela praia. Não podia acreditar naquilo como verdade. Mas era ele, tinha certeza. Ele continuou a caminhada e foi até a beira da praia, momento no qual se aproximou uma lancha e de lá desceram cerca de uma dúzia de pessoas, entre homens e mulheres. Junto com aquele pessoal apareceu Mané que ajudou a todos na descida da embarcação. Da praia eles foram caminhando em direção ao bangalô. Fiquei olhando os acontecimentos de longe. Na bagagem havia instrumentos musicais embalados naqueles recipientes que guardam guitarras, contra baixos e peças de bateria. Naquela noite pude ouvir da minha varanda sons ao longe que lembravam as músicas que embalaram minha juventude. A curiosidade estava me absorvendo de tal forma que tinha que saber mais sobre aqueles acontecimentos. Mas, não era curioso a ponto de bisbilhotar a vida alheia. Numa noite de lua cheia fui passear pela praia. O ar da noite na praia me fazia muito bem e eu aproveitava o passeio. Nas proximidades da encosta onde o bangalô estava edificado ouvi Mané me chamando. Atendi ao chamado caminhando por uma escada de pedras feita na encosta e logo cheguei a um local plano aonde ele estava assentado. Mané me convidou para sentar numa das cadeiras de palhinha na varanda. Colocamos a conversa em dia e assim fiquei sabendo do que meu amigo fez da sua vida nos últimos anos. Ele me disse que era secretário particular de um músico irlandês que morou ali por um bom tempo. Ele se isolou para escrever as suas memórias e voltar a compor. Ele, feliz da vida, me informou que era o novo dono do bangalô, e que estava pensando em fazer ali uma pousada. A pousada se chamaria Sweet em homenagem ao sobrenome do amigo que lhe deu tão precioso presente. Eu perguntei sobre um movimento que havia visto há tempos atrás onde havia muita gente e instrumentos musicais. Mané simplesmente respondeu que aquele pessoal veio levar o famoso artista de volta ao seu mundo, sendo a música o gatilho para ele acordar de um longo transe. Não entendi bem as palavras de Mané e nos despedimos. Pouco tempo depois, soube da volta do famoso roqueiro ao seu grupo musical. Eles marcaram uma turnê mundial para breve. Será uma boa chance de rever o grande grupo de rock em ação.