O POÇO DO DENTÃO

Quando jovem escutei uma estória pra lá de interessante no bar Pé do Carcará contada pelo marujo Chimbau. A narrativa começou quando nosso herói foi mergulhar no poço do dentão, um local de mar de muita profundidade entre dois arrecifes. O poço do dentão só aparece na maré baixa, pois na maré cheia ele fica encoberto pelas águas do mar. É um local onde aconteceram muitos acidentes devido a essa formação. O interessante é que as embarcações por muitas vezes passavam na primeira barreira de arrecifes, mas colidiam com a segunda e afundavam desaparecendo para sempre. Dessa forma, surgiram muitas lendas sobre naufrágios de naus de aventureiros franceses, holandeses e ingleses que ali  deixaram tesouros inimagináveis. Existe uma lenda narrando que o navegador francês Jaques Rifoles escondeu um tesouro naquele local, composto por muitas moedas e joias proveniente de uma nau inglesa afundada em mares da região. Na maré baixa, no poço do dentão, os arrecifes ficam à vista, mantendo um espaço entre eles de uns cem metros, com águas muito profundas. O local ainda hoje é apreciado para mergulhos de cabeça feitos por moradores da área que ali se divertem. No entanto, há relatos de muitos afogamentos e desaparecimentos misteriosos. O poço também é muito utilizado para mergulho profissional e caça submarina. Voltando a narrativa, Chimbau foi contratado por um estrangeiro de nome Jean para mergulhar no local, e pesquisar sobre a presença de destroços de embarcações, ou a presença de materiais estranhos naquele pedaço de praia. O contratante soube da sua fama em fazer mergulhos de longa duração e da sua especialidade em encontrar objetos sob a água. Jean estranhou a recusa do nosso mergulhador em não querer usar máscara  e respirador. Assim, foi feito o mergulho, e, rapidamente aconteceu a primeira subida à superfície, despontando um pedaço de madeira na sua mão fora da água. Jean identificou aquele objeto como parte de uma embarcação do século XVI, por tratar-se de um determinado tipo de material. Outros mergulhos se seguiram e mais objetos foram trazidos à tona como pratos e xícaras de porcelana. Num outro mergulho, foi relatada a existência de uma passagem na parede do poço a uns dez metros de profundidade. Jean mandou que aquele espaço fosse bastante explorado, pois, poderia estar ali o que ele estava buscando. Aconteceu mais um mergulho seguido pelo desaparecimento de Chimbau que foi subitamente arrastado por uma correnteza até um buraco azul no Caribe. Percebendo uma claridade, ele nadou à superfície e viu que estava em outro lugar. O mar era muito azul e estava cercado por pedras, mas muito próximo à praia. Em poucas braçadas ele chegou na areia branca e procurou falar com alguém. O idioma era diferente, no entanto, de fácil compressão. Em pouco tempo nosso intrépido mergulhador foi levado ao consulado brasileiro e contou sua estranha aventura. Como tudo parecia uma grande mentira, ele foi levado à policia para averiguações, e, foi entendido que se tratava de um estrangeiro que havia perdido o juízo. Em pouco tempo Chimbau estava de volta à praia da Pontinha contando mais essa peripécia.  Dessa vez, com provas da sua inesperada viagem, fotos e um prato com a estampa do buraco azul onde ele apareceu decorando a sua casa. Para apimentar essa epopeia, foi explicado que a viagem foi feita em razão da aspiração da água do mar feita por um monstro gigante  dentro do buraco azul, gerando um movimento de água capaz de transportar alguém por milhares de quilômetros em pouquíssimo tempo. No buraco azul, o corajoso marujo se deparou com o monstro e nadou rapidamente à superfície ao sinal de luz solar escapando do perigo mortal. Algum tempo depois soube que esta aventura é a lenda dos buracos azuis no Caribe que explica o estranho movimento de sucção acontecido nas suas cavernas marinhas. Após saber da volta de Chimbau, Jean o procurou para novos mergulhos que ocorreram normalmente, e, dessa vez foram encontradas chaves e correntes. Essa estória curiosa é mais uma a aumentar o mistério em torno do famoso poço do dentão.