COGU E O AVIÃO VERDE

Outro dia revi o velho amigo de colégio cujo apelido era Cogu. Essa alcunha engraçada foi devido ao fato dele ter contado para a turma que tinha viajado num avião verde, quando acampava na Lagoa do Carcará. Ele se dizia avesso a qualquer tipo de droga, mas, depois desse episódio, não se tinha como separá-lo de algum alucinógeno. Depois do Colégio ele foi para a Escola Militar e depois de lá sumiu por muito tempo. Na nossa conversa colocamos os assuntos em dia e os tempos do colégio foram lembrados. Rimos muito com o festival de música que o colégio promoveu e ele apresentou o seu rock chamado avião verde. A música falava de margens de uma lagoa e o refrão era “num avião verde”, acompanhado por uma guitarra estridente tocada pelo músico Babau. Foi um sucesso, só que a vencedora foi uma música mais comportada falando de um amor de adolescentes. No reencontro, relembrei da Lagoa do Carcará e do avião verde. Para a minha surpresa soube que o famoso episódio realmente aconteceu. Ele disse que acampava com uns amigos na beira da lagoa até pousar um avião de cor verde brilhante, e, um jovem desceu da aeronave e convidou a todos para um passeio, no entanto, só aceito pelo velho Cogu. O avião pousou e decolou na vertical. O nome do piloto do avião era Charles e falava um português sem sotaque definido, não se podia dizer de onde ele era. O passeio foi pelo cosmos, disse meu amigo falando seriamente. Ele viu planetas, galáxias, sóis e asteróides. O piloto Charles disse que veio lhe mostrar o universo. Dentre as lições daquela viagem, a mais marcante, foi aquela ensinando que terra era um berço onde eram gestadas almas para ocupar o universo infinito. A dupla passeou ainda por um planeta muito avançado e, de repente, estava de volta. Cogu foi deixado de volta são e salvo. Naquele contato aconteceu uma solene promessa de um novo passeio no futuro. A sensação foi tão maravilhosa que nosso viajante espacial passou muito tempo falando daquilo, e, quase que perdeu o juízo, ganhando a fama de pirado. Entretanto, na vida adulta, ele virou um militar e se tornou um cara ajustado a vida. Mesmo assim, ele continuou dizendo por onde passava que não via a hora de fazer o passeio no avião verde, dessa vez, ele iria conhecer melhor o universo. O piloto Charles lhe disse que aquela viagem foi apenas o início. Ele me confessou que nas férias passava alguns dias na Lagoa do Carcará, apesar de morar do outro lado do país. A esperança de fazer outro voo fantástico, o fazia ir sozinho, pois, ninguém se aventurava naquela ideia desajuizada, como ele se referiu aos comentários que faziam. Eu o levei até a minha casa de praia, onde moro, e podemos conversar mais sobre diversos assuntos. Aquela noite era de lua cheia, como no dia da sua viagem irracional. No início da noite, a lua surgiu nascendo no mar. Quando ela estava a uma certa altura, um eclipse a deixou parcialmente vermelha, até torná-la com aquela cor por inteira. Cogu não se conteve, e disse que naquele dia aconteceria o que lhe foi prometido há muito tempo. Ele precisava estar na Lagoa do Carcará. Ele se despediu, apanhou o carro e foi embora. Fiquei olhando para a lua até a sua cor voltar ao normal. Chamou-me a atenção um avião parecido com esses de caça voar em círculos acima do mar. Percebi a sua cor verde brilhante, o que me fez pensar que seria aquele que Cogu viu uma vez na sua vida. Numa imagem holográfica no céu, pude visualizar o amigo Cogu acenando até desaparecer completamente. A partir daquele dia passei a frequentar a Lagoa do Carcará. Sempre ficava num restaurante numa parte alta onde se podia ver a coleção de água quase que na sua totalidade. Procurei saber da origem do nome carcará, e, soube que era devido ao aparecimento de objetos voadores que faziam voos rasteiros e apanhavam animais das redondezas, e, estes ficavam como se estivesse presos por garras, e, se distanciavam até desaparecer no horizonte. O movimento se parecia com o de um carcará quando apanha sua presa e o leva para um ponto distante para devorá-lo. Mas, aqueles acontecimentos aconteceram há muito tempo, segundo o dono do Restaurante. Provavelmente, ali aconteceu algum movimento relacionado a extraterrestres, talvez, semelhantes, ao atual papa cabra. Algum tempo se passou e recebi uma nova visita do velho Cogu, que desabafou que naquele momento estava mais satisfeito, pois, comprovou que o que havia se passado com ele tinha sido realidade, e, não fruto da sua imaginação, pois, os seus companheiros do acampamento do primeiro encontro não se lembram até hoje do acontecido. Dessa vez, a viagem aconteceu aqui mesmo no planeta terra. O piloto Charles disse que ainda não era hora de um novo passeio pelo universo. Mas, agora ele estava bem e iria encarar a vida com mais tranquilidade. Eu até hoje espero por uma nova visita de Cogu, dessa vez, com estórias, certamente, mais surpreendentes.