A VOLTA DO CIRCO

Continuando a busca pela estória de Jean, garimpei nas minhas lembranças que  certo dia ele foi surpreendido com a volta do Gran Circo Barcelona na Capital. O anúncio falava do incrível trapezista Grande Claude e seu espetacular salto triplo sem a rede de proteção, e das outras atrações circenses, incluindo o mágico Sandor e seu novo truque chamado de teletransporte. Havia, também, os palhaços Mamado e Chumbeta com a arte do riso. Aquela propaganda mexeu com os sentimentos de Jean, que imediatamente se dirigiu para o amado Circo. Ele quis assistir ao espetáculo como uma pessoa comum e foi para as frisas próximas ao picadeiro. Dali ele podia aproveitar de perto o espetáculo que iria iniciar. O Show começou com as belas dançarinas fazendo uma apresentação em estilo can can, ao som da tradicional música que anima esse tipo de performance. Depois, vieram os malabaristas com espadas, tochas e outros instrumentos. A luz se apagou, e, em pouco tempo foi armado o globo da morte onde quatro motocicletas se movimentavam freneticamente no seu interior se cruzando de maneira incrível, era impressionante como não se chocavam, pensou alto. A hora do trapézio foi um show a parte. O trapezista Grande Claude fazia a plateia gelar com os seus saltos fenomenais e exatos. O ápice da sua apresentação aconteceu com salto triplo até o encontro com a barra de ferro, tudo isso, sem a rede de proteção. Na hora do mágico Sandor, além das suas tradicionais mágicas aconteceu o teletransporte de uma auxiliar de palco. Ela foi coberta por um pano colorido, desaparecendo com a retirada daquela peça, e aparecendo apoiada num pedestal, preso a uma das colunas do circo, iluminada por um poderoso holofote. Por fim, os palhaços deram um show de humor com aquele tradicional formato: quedas, piadas e pastelão. No final do espetáculo todos os artistas subiram ao picadeiro para o aplauso final que durou minutos. Jean ficou deveras emocionado e foi aos camarotes rever os velhos amigos. Foi uma alegria estar novamente com o velho Sandor e os palhaços colegas de alegrias. O trapezista recebeu dele os parabéns por tamanha habilidade e competência nos movimentos acrobáticos. Como a outra seção estava para começar, Jean se despediu dos amigos, desejando-lhes boa sorte e sucesso. Na ida para casa, Jean pensou em levar o circo à sua pequena cidade natal, seria uma forma de levar aquele show para perto de seus amigos e família. Assim, num outro dia, ele fez o convite ao Dono do Circo, o Espanhol Xavi, que ele carinhosamente chamava de Xavito. E, assim foi feito. Algum tempo depois o Gran Circo Bracelona estava montado na Cidade Natal de Jean, só que numa versão reduzida. A primeira e única apresentação aconteceu com a casa cheia. O palhaço Patoca voltou a ativa, fazendo todo o público morrer de rir. No final do espetáculo, todos os artistas foram ao picadeiro e Jean pode se mostrar para a enorme surpresa de todos. As palmas duraram minutos. Naquele dia, alguns dos artistas do circo foram ao estabelecimento do Cajarana, atendendo ao seu convite. O local foi cuidadosamente preparado para receber as celebridades. Todas as garotas estavam vestidas em trajes próprios para a dança can can. No teto foi armado um trapézio com a barra sendo sustentada por cordas que desciam do teto. Foi montado um palco para as mágicas do mestre Sandor e shows dos palhaços e dos malabaristas. Cajarana logo anunciou que a farra daquela noite seria por conta da casa. Foi uma noite inesquecível. Aconteceu um show à parte com a dança das garotas, mágicas inacreditáveis de Sandor, apresentação primorosa de malabaristas, um pequeno show do trapezista Grande Claude, que arrebatou uma das bailarinas pelos braços e a levou a um movimento pendular por alguns segundos. Por fim, o palhaço Patoca arrancou gargalhadas de todos. No final das apresentações, Cajarana discursou falando da magia da sua casa boêmia, como ele chamava o seu bordel, e, ainda, que conseguiu, naquela ocasião, momentos de extrema alegria, onde a fantasia explodiu com tamanho acontecimento, fora de todos os limites esperados para uma cidadezinha interiorana. Foi a realização de um grande sonho, concluiu. A festa durou até os primeiros raios de sol da nova manhã que surgia denunciada pelas cores do dia a se firmarem no horizonte. Naquele mesmo dia, o circo foi desmontado e o sonho da noite desmanchado com o despertar para a vida dura. O estabelecimento de Cajarana perdeu para o trapezista Grande Claude a bela Jane, que foi levada para viver no circo, talvez, como uma das bailarinas a encantar os admiradores daquela bela arte. Jean ficou feliz com a felicidade do amigo em agora ter uma companheira para a vida intensa e nômade do circo. Por outro lado, uma tristeza lhe tocou a alma por não ter Valerie consigo numa situação parecida. Seria a extrema felicidade, pensou.