ROCK STORE

A loja de discos Rock Store continua funcionando no tradicional bairro da Ribeira, e, continua vendendo, principalmente, discos de vinil, apesar de trabalhar com mídias mais atuais como CDs. O local continua igual como era há muito tempo, uma casa antiga com uma grande porta e uma placa com os dizeres Rock Store. Logo que se entra no local se vê prateleiras coladas nas paredes contendo centenas de discos de vinil e um balcão no fundo onde está o seu proprietário o hoje Senhor Cacá Roque, vestindo uma camiseta preta tendo como motivo um grupo conhecido de rock, calça jeans, e cabelos encaracolados no ombro, já um tanto grisalhos. Os frequentadores, na sua maior parte, já passaram dos quarenta, e, e vão ali para curtir suas bandas favoritas. Há uma vitrola onde os habitués pegam os vinis e lá os colocam para tocar as suas músicas preferidas. Assim, há sempre um rock sendo tocado em qualquer horário. Cacá recebe o pessoal e faz as anotações para passar a música dos velhos “long play” para as mídias mais atuais. Há uma geladeira com cerveja, e, o pessoal ali fica por horas bebendo e curtindo um som. Há muita contação de estórias pelos frequentadores, e, muitas delas com muita imaginação, coisas que só vendo para crer. São episódios de viagens pelas metrópoles do pais, como, também de episódios acontecidos no exterior, quase sempre tendo uma motocicleta e festivais de música como assunto principal. É uma diversão passar uma tarde no Rock Store, sempre se sai de lá com uma boa novidade. Nos fundos do estabelecimento há um galpão, hoje caindo aos pedaços, contando com um palco para apresentações por onde já passaram um grande número de bandas de rock, covers e cantores locais. Ainda hoje, com uma frequencia menor, acontece apresentações que rememoram a efervescência do rock com os sucessos das bandas dos anos setenta e oitenta. Naquele espaço também funciona um bar, com mesas e cadeiras e um telão, onde são projetados velhos filmes das grandes bandas como os Stones, Led Zeppelin, Black Sabath, Nazareth, Metallica, Sweet, Smiths, etc. O projetor de filmes é um daqueles de 16 mm com carretel e tudo. A música sai com pouca qualidade mas retrata o tempo passado e todo o seu eco até os dias atuais. Quando acaba o filme, Cacá com muita paciência muda o rolo para uma nova apresentação, e, aí começa uma nova viagem no tempo. Há sempre uma sensação que estamos assistindo o show ao vivo. Dá para sentir todas as vibrações emanadas do momento original. A interação do público com a projeção é tão grande que, segundo dizem, alguns são absorvidos pela tela e dentro dela aproveitam ao máximo o show, saindo exaustos de tamanha aventura. Ali, sempre houve espaço para o pessoal da terrinha que fazia seus shows com o maior sucesso. Os roqueiros Petit e a banda barulhos arrancaram aplausos intermináveis nas suas apresentações. Para manter a chama do rock acesa sempre aconteceu uma homenagem a um grupo musical, com uma noite de projeções dedicadas as suas músicas. Alguns roqueiros entusiasmados afirmavam que algumas bandas projetadas na tela se materializavam por segundos. Um amigo hoje cinquentão, o roqueiro Jony Riva me disse que assistiu ali a uma apresentação meteórica de James Taylor cantando fire and rain. O projetor de 16 mm, segundo a lenda, podia trazer os artistas do filme para o galpão. A estória mais interessante ligada a Loja Rock Store, foi a saída da tela de um dos cantores de um grupo de rock famoso. Ele tocou um dos seus hits e foi convidado por um dos frequentadores para conhecer a cidade. Rick havia feito intercâmbio e passado uma temporada nos Estados Unidos, e, assim, falava inglês fluentemente. O papo foi rolando e Bob saiu com o anfitrião. Naquele dia eles foram para uma praia conhecida do Estado. Naquele tempo uma praia ainda sem a fama que tem hoje. Bob ficou hospedado na casa de Rick e este passou lá uns dias. Uma turma de jovens conhecida na cidade como Colônia Leleu se divertiu com o estrangeiro, que tocava violão como ninguém e fazia a festa. Bob era inglês e aproveitou o período que passou aqui nas nossas terras. Ele dava show cantando stairway to haven, teve algumas namoradas, e seu nome virou lenda. Um lugar numa das praias do estado ganhou o nome de praia do gringo, e, até hoje existe fotos que dizem ser suas pelos bares e casas de pescadores. Era hora de voltar e o amigo Braz o foi deixar de volta. Cacá projetou o filme do seu grupo e Bob voltou ao seu lugar. Essa lenda faz parte do universo Rock Store e é um dos atrativos que faz muita gente ir lá e acreditar nessa possibilidade surrealista. Eu nos tempos antigos já fui surpreendido com um súbito aparecimento de uma super banda no velho galpão, mas, não posso acreditar naquilo como uma verdade. Foi um dos delírios da juventude que até hoje trago como lembrança dos tempos áureos da Rock Store.