DEDÉ DA RABECA

Uma rabeca apareceu boiando no Rio Grande até ser visto pelo menino Dedé que apanhou aquele instrumento e o levou para casa. Aquela peça estranha foi colocada no sol e no final do dia estava seca.O menino de sete anos começou a bater nas cordas originando um som como o de um violão desafinado. Sua mãe lhe perguntou onde ele havia encontrado aquilo e ele respondeu que o achou boiando no Rio Grande. A rabeca passou a ser o brinquedo favorito do menino Dedé, que queria tocar alguma coisa naquele objeto estranho. Numa missa de final de ano, a família foi a Igreja e lá havia havia uma Cantata de Natal, e, um dos instrumentos tocados era um violino, tocado primorosamente por uma Senhora chamada Iris. Dedé correu até sua casa que ficava perto da Igreja e trouxe consigo a rabeca. Sua mãe ficou satisfeita de ver seu filho de volta que havia desaparecido momentaneamente. No final da missa mãe e filho foram ao encontro da Senhora Iris. A pergunta foi como tocar a rabeca? A resposta foi que uma peça chamada arco toca as cordas para produzir o som. Dedé disse que queria um para tocar a sua, e prontamente, ganhou aquele usado pela instrumentista. Rapidamente a Senhora ensinou alguns acordes e notas para a rabeca. Num passe de mágica, o menino aprendeu tudo o que foi ensinado. Os dias seguintes foram de ensaio horas a fio. Com o passar do tempo Dedé já tocava encantando a todos que o escutavam as musicas extraídas daquele instrumento musical. Os anos passaram e Dedé passou a ser um exímio tocador de rabeca e passou a ganhar dinheiro tocando o seu instrumento em feiras, no centro da cidade e em festas quando convidado. O estranho é que nosso músico passou a mudar de fisionomia quando tocava, parecia que ele era levado a outras dimensões de tão absorvido pelo som do seu instrumento. As fotos que eram tiradas deixavam Dedé com um jeito de anormalidade, como se estivesse longe de suas faculdades mentais. No entanto, no cotidiano ele apresentava um comportamento de educação e fineza nos tratos. O mais estranho de tudo foi a estagnação que Dedé sofreu. A rabeca tomava conta de toda a sua vida, tanto que ele teve apenas os estudos elementares e não tinha emprego fixo. Nos últimos anos de sua aparição pública, ele se vestia mal e apresentava um aspecto de poucos cuidados, roupas sujas, cabelos compridos e barba por fazer. Todavia, nas suas conversas, principalmente com mendigos e moradores de rua, ele contava estórias mirabolantes sobre sua participação em festas num Reino distante, de onde veio a sua rabeca, por sinal trazida para ele por uma fada de nome Iris, com a finalidade de lhe fazer um ser fantástico. Ele comentava que um dia iria para um lugar de eterna felicidade e plenitude, onde habitam fadas, duendes, magos e seres superiores. Essa estória se espalhou pela cidade e o músico Dedé passou a ser visto com outros olhos. De um gênio da rabeca passou ser considerado um louco e assim deixou de ser convidado para animar festas e eventos. A sua sobrevivência dependia de pequenas doações de transeuntes do centro da cidade que se encantavam com a sua música. No dia do seu desaparecimento Dedé juntou alguns mendigos e os levou a Praça da Matriz. Foi dado a cada um deles um objeto que seria um instrumento para a grande sinfonia de sua autoria. Dentre esses objetos havia latas de tinta e de leite, talheres, baldes vazios e flautas doce. Juntou-se ao grupo boêmios com violões e cavaquinhos. A orquestra improvisada contava com algumas dezenas de participantes. A rabeca começou a tocar a sua melodia, depois entrou a percussão onde os sons de graves e agudos passaram a compor a música. Em seguida os violões e cavaquinhos com acordes de acompanhamento e solos. Algumas bailarinas vindas da escola de balé da cidade entraram no clima e passaram a dançar numa coreografia improvisada de imensa beleza. Alguns moradores e transeuntes foram chegando e passaram a assistir ao espetáculo de primeira grandeza. A noite chegou e com ela trouxe uma lua brilhante como vista em poucos dias. Alguns carros acenderam os faróis dando uma composição especial àquele inusitado evento. Após algumas horas de música e beleza o espetáculo foi encerrado arrancando um estrondo de palmas que durou minutos. No dia seguinte os jornais locais apresentaram como noticia de primeira página o acontecido e Dedé da Rabeca foi chamado de maestro. Depois disso, a cidade não viu mais o seu músico andarilho. Ele desapareceu misteriosamente. Alguns mendigos falam que ele foi apanhado por um estranho automóvel que se desintegrou em pleno movimento. Foi a sua última notícia.