O DUENDE ELTO

Conheci num encontro com o velho amigo Renê, um quase senhor de meia idade, muito vermelho, com uma calvície avançada e um papo de derrubar elefante, como dizem, chamado Elto. O amigo Renê era uma figura simpática com um permanente amável sorriso e disposto a uma boa conversa. Ele era um cara de cabelos pretos lisos rareando puxados para trás, tinha uma boa altura ao contrário de Elto que era mais baixo. Quando fui apresentado, este já me conhecia bem, foi amigo do meu pai, sabia da minha vizinhança e dos meus amigos. Disse que já tinha frequentado minha casa e sabia até das miniaturas que guardo, como o duende Paco e, ainda, perguntou, com um sorriso no rosto, como ele estava. Respondi que meu amigo imaginário vai muito bem. Paco é uma miniatura de duende que me acompanha por muito tempo, ele está sempre comigo aonde quer que eu esteja. Num devaneio até o conheci transformado num duende real e viajamos até a sua dimensão. Mas, hoje sei que aquilo foi um sonho quando descansava num banco de um jardim, na casa de uma amiga, cujo terreno apresentava medidas que não cabiam num lote comum. Aos poucos fui me tornando amigo de Elto e pude conhecê-lo melhor, soube alguma coisa da sua vida privada, quem eram seus amigos e familiares. Quando comentei sobre suas habilidades de conhecer todo mundo, Renê me falou que ele era um grande mentiroso, mas boa gente, concluiu. Num dia fomos a minha casa e eu lhe mostrei a miniatura do duende Paco. Para a minha surpresa, Elto sumiu sem dar notícias.  Descobri apoiado na terra, entre pedras decorativas, de um vaso de plantas na minha sala uma outra miniatura de duende feita de ferro. Percebi ao lado da nova miniatura uma pequena pedra que lembrava muito Renê. Juntei na estante as miniaturas de Paco, do duende de ferro e a pedra. Batizei as novas peças por Elto e Renê. Um pouco tempo depois apareceram os dois amigos. Elto se desculpou pelo sumiço, explicando que Renê o chamou para resolver um problema, mas que agora estavam lá para uma cordial visita. O papo se iniciou e Elto começou a contar sua vida. Disse que foi comerciante, mas que no momento tratava da vida espiritual das pessoas atuando como psicólogo. Renê, como já sabia, era um reconhecido escultor. Disse, sem modéstia, que trabalhava com a arte para deixar a vida mais bela para as pessoas. Na nossa despedida, Renê me convidou para visitar sua casa numa área afastada da cidade. Alguns dias depois fui visita-lo atendendo ao convite. Chegando a sua casa no início da noite, estacionei o carro e fui surpreendido pelo anfitrião me convidando para entrar. No interior da sua casa tive uma velha impressão de adentrar um espaço maior do que a área do terreno. Havia muitas árvores, bancos, estátuas de animais, duendes, elfos, sereias e uma fonte de água. Dentro da casa a decoração era com móveis antigos e quadros com motivos da topografia e da mitologia escandinava. Tudo de muito bom gosto. Na volta tive a impressão de não estar sozinho no carro. Fui convidado por Elto para uma terapia no seu consultório de psicologia. Atendendo ao pedido do novo amigo, fui fazer uma seção. Iniciamos o trabalho com um processo de hipnose, onde pude me ver ao lado de um duende. Ele tinha um metro de altura, vestia uma casaca verde, suas orelhas ficaram pontudas e passamos a conversar. Ele me perguntou se eu acreditava em duendes, eu respondi que sim e que tinha um amigo duende chamado Paco. Ele me perguntou se eu conhecia os trolls. Eu disse que já tinha lido alguma coisa a respeito. Ele me confidenciou que Renê era um deles. Depois de mais alguma conversa escutei um estalar de dedos para encerrar a hipnose. O meu interlocutor voltou ao normal, era homem de novo. Despedimo-nos como se nada houvesse acontecido. Aquele encontro martelou a minha cabeça. Elto era um Duende e Renê era um troll, era só o que faltava, pensei. Em casa, já na entrada da noite, sentei-me no sofá e percebi que as miniaturas Elto e Renê não estavam na estante, não entendi como as miniaturas desapareceram, um mistério. Recebi um telefonema de Elto me convidando para um encontro numa cafeteria. Aceitei o convite e logo estávamos juntos, eu, Elto e Renê, foram horas de um papo fabuloso. Em casa, percebi as miniaturas de volta à estante. Naquela noite, sonhei com o duende Paco que me contou algo curioso sobre os dois amigos. Elto era um duende que preferia esta dimensão para viver e Renê um troll adaptado a este estilo de vida e ao nosso clima tropical, só que ele está condenado a ser de pedra durante o dia e um ser humano de noite. Ele agora vive na sua estante. Continuando a explicação Paco me informou que no dia da visita a sua casa ele se mudou para cá. Soube que visitei a sua casa de troll. Também, fiquei sabendo que Renê de dia vai ser uma miniatura de pedra e de noite ele viverá como o velho amigo. A última lembrança do sonho foi o recado: cuide bem da estatueta, Elto lhe dará todo o apoio nesta sua condição. Acordei no dia seguinte com uma sensação e ter resolvido um enigma na minha vida, Fui à residência de Renê no início da tarde e ele não morava mais lá. O local da casa era um bosque. Com o passar do tempo percebi o sumiço noturno diário da miniatura do troll. Encontrei-me por diversas com Renê e não tive coragem de dizer nada. Imaginei que ele iria me achar um louco. As notícias que tenho de Elto é do seu sucesso na sua profissão. Renê continua fazendo esculturas fantásticas em pedra e suas exposições são sempre à noite. Prometi a mim mesmo que as miniaturas que tenho não iriam me deixar louco, será?