LOJA DO MAGO

Pensei em colocar uma mesa na varanda da minha casa de praia, imaginei uma que fosse num modelo rústico com detalhes nos pés e prancha que lhe desse um aspecto de antiguidade e nobreza. Seria um lugar para que eu pudesse sentar e escrever, tomar um café ou receber amigos para um bom papo. Lembrei-me do vuco vuco, um local tradicional de venda de móveis usados e antiguidades. Lá eu certamente encontraria o que tinha em mente. Numa tarde fui até aquela parte especial da cidade. O centro de compras de antiguidades e usados ficava num trecho de rua entre as avenidas um e seis. Estacionei o carro e me dirigi aquele pedaço de comércio no tradicional Bairro do Coentro, nome resultante de uma grande feira que ali surgiu. Comecei a passear pelas lojas e olhar o que estava exposto. Nas calçadas havia móveis antigos e seminovos. No interior das lojas, podia-se ver peças maravilhosas como cristaleiras, guarda roupas, roupeiros, cômodas, etc. Também, havia peças antigas de muito bom gosto, eram castiçais, abajures, estatuetas, etc., em ferro, bronze e porcelana. Passei por algumas lojas e não encontrei a mesa que imaginava. Uma loja me chamou a atenção, ela se chamava Loja do Mago e era um tanto diferente. Sua fachada era estreita, tinha uma placa de madeira com o nome da loja e os móveis eram os mais antigos da redondeza. Ali percebi algumas coisas de decoração muito interessantes, inclusive, havia armaduras de cavaleiros medievais, como aquelas que vemos nos filmes. Na casa de uma amiga havia duas armaduras no corredor de entrada e se pareciam muito com o que via naquele momento. Adentrei a loja e fui cumprimentado por um senhor magro, baixinho, usando uma barba branca e um chapéu de tecido preto. Ele me perguntou em que podia me ajudar. Contei o meu desejo e a dificuldade de o encontrar. Ele me disse que tinha algumas mesas antigas na sua sala dos desejos e pediu para eu o acompanhar até lá. No caminho eu lhe disse que na casa de uma senhora chamada Dona Elza, havia armaduras semelhantes àquelas que eu tinha visto. Para a minha surpresa soube que “Lady Elza”, como ele a chamou, adquiriu ali as peças citadas, e, que, ela é sua conhecida de muito tempo. Caminhamos alguns metros até chegarmos numa porta ricamente decorada com talhas contendo dragões, castelos e um brasão no seu centro.  Perguntei pelo nome do senhor que me atendia e soube que ele se chamava Pharel. Comentei a respeito do seu nome pouco usual, e, fiquei sabendo que era uma alcunha lhe dada numa escola há muito tempo. Adentramos na sala e tive mais uma vez a sensação de estar num lugar maior do que ele realmente é. Havia um castiçal de oito velas sobre uma mesa redonda com dez cadeiras ricamente decoradas. A mesa era uma relíquia, na qual se reuniam reis e guerreiros da história, explicou. Nos cantos do salão havia muitos móveis e entre eles algumas mesas. Uma delas me interessou, era uma mesa para seis lugares com a sua prancha e pés entalhados com motivos que lembravam folhas e galhos de árvores. A cor era escura da cor de mogno e pertenceu a um alquimista famoso. Convencido que queria aquele móvel, paguei o preço pedido em dinheiro e combinamos a entrega. Ele me disse que quando eu chegasse em casa a mesa estaria lá do jeito que eu queria ela estivesse. Na hora não levei a sério aquela promessa e fui embora. Quando cheguei em casa a mesa estava instalada na minha varanda. Foi uma grande surpresa, pois não havia alguém para receber aquela compra. Bem, a mesa era uma beleza e estava ali pronta para ser usada. Na manhã seguinte tomei café sobre ela e estava muito satisfeito com o meu novo móvel. Ele tinha um estilo único e iria durar muito tempo. Admirando a mesa, achei que ela podia ter algo que a decorasse, um castiçal ou um vaso, seriam objetos perfeitos. Voltei no dia seguinte a Loja do Mago para tentar comprar os produtos imaginados. Quando entrei lá, procurei pelo Senhor Pharel, e, encontrei um outro Senhor que se chamava Mago que logo me disse não conhecer tal pessoa. Eu insisti dizendo que havia comprado uma mesa na sala dos desejos, no entanto, não havia uma sala a mais naquela loja. Eu disse que a entrada era por uma porta muito bonita e soube que realmente havia uma porta solta encostada numa parede, mas, que no dia anterior havia sido vendida para uma Senhora de nome Elza. Fiquei curioso com o que se passava e resolvi ir a casa da minha amiga para tentar esclarecer aquela situação enigmática. Lá chegando fui muito bem atendido. Dona Elza era uma Senhora beirando os oitenta anos, estava bem vestida e usava joias e enfeites. Observei a decoração e percebi que tudo era de muito bom gosto com muitos quadros nas paredes, móveis belíssimos espalhados pela sala de estar, entre eles uma cristaleira e uma mesa de canto com um espelho de moldura dourada. A porta que procurava estava encostada na parede e parecia encaixada naquele requintado ambiente. Com muito jeito fui me dirigindo até a porta e delicadamente a tentei abrir puxando a sua ornamentada maçaneta, sem conseguir êxito. Tomamos um chá com biscoitos, conversamos sobre amenidades até encerrarmos o encontro. Com um convite para uma outra visita nos despedimos. Aquela visita não clareou minhas dúvidas sobre o Senhor Pharel e a mesa que comprei. Seria melhor esquecer aquele episódio e aproveitar a nova mesa comprada honestamente de uma figura misteriosa. Vou continuar fazendo visitas ao vuco vuco e quem sabe eu não encontre uma nova sala dos desejos.