GREEN BALLONN
Passeando pela praia me deparei com alguns praticantes de kitesurf deslizando nas águas onduladas do mar. Eram realizadas manobras sensacionais onde se via pessoas flutuando a metros de altura sendo arrastadas pelo implacável vento até voltarem as ondas e seguir a direção escolhida pelos intrépidos atletas. Fui surpreendido por uma vela verde com a inscrição Green Balloon a se direcionar até a areia e trazer consigo o seu dono que rapidamente apanhou o equipamento e o guardou distante da arrebentação. Reconheci aquela pessoa como o velho amigo Franc Brau. Fui ao seu encontro e tivemos a oportunidade de nos reencontramos. Foi uma grande alegria rever aquela figura simpática. Depois de muita conversa fui convidado a conhecer sua pousada que ficava a uma hora dali. Aceitei o convite por estar de férias e uma ótima oportunidade de estar com meu velho amigo. Durante o caminho fui convidado para um passeio de balão. Ele me contou sua experiência na Capadócia. Ele ficou impressionado com a sensação de liberdade ao passear num objeto levado pelos ventos, oferecendo a libertação das amarras que nos prendem ao plano da superfície. De lá de cima conhecemos verdadeiramente a terceira dimensão, comentou. Para a minha surpresa chegamos a uma pousada rural com alguns chalés. Fiquei acomodado numa das habitações e procurei aproveitar bem aquele tempinho. Franc me falou que o pessoal que frequenta aquela pousada são pessoas cansadas da vida na cidade, aventureiros, e, aqueles que querem simplesmente passear no balão, o que acontece diariamente. Também, querem conhecer a mística daquela região baseada nas formações rochosas e o suposto voo mitológico de um balão de pedras. A pousada era denominada de Green Ballonn, pegando carona no relevo que conferia um formato assemelhado a balões em muitas serras vistas da pequena propriedade rural. Pude perceber o cenário depois de darmos uma volta e, assim, poder ver hortas, criação de animais como vacas e ovelhas, e algumas plantações de milho, feijão, dentre outras. Porém, o maior acontecimento foi a visita a um galpão onde estava o famoso balão fora de uso. Entramos no ambiente e Franc deu uma aula sobre balonismo. A primeira coisa a ser apresentada foi o envelope, que é a parte preenchida com ar quente. Depois, foi mostrado o cesto de vime, o local onde os balonistas ficam durante o voo. Com a minha ajuda todo o artefato foi levado para céu aberto. Franc acendeu o maçarico e o ar foi esquentando. O balão foi tomando a forma de gota invertida. Numa determinada altura do enchimento entramos no cesto e o balão começou a subir. Como foi minha primeira experiência, a subida parecia mágica. Senti-me seguro naquela aventura e passei a observar a paisagem. Lá de cima tudo parecia pequeno. Os animais, as casas, os automóveis, tudo parecia artefatos de brinquedo. Perguntei de onde veio a ideia de ter um balão. Ele me explicou que além da sua experiência na Capadócia, ele certa vez sonhou com um balão passeando pela região, só que o artefato do sonho era uma pedra que flutuava e arrastava um cesto. Como ficou muito impressionado, resolveu adquirir o artefafo voador para conhecer mais de perto a chamada Serra do Balão. Por coincidência o vento nos aproximou daquela serra e pude admirar a estrutura rochosa. Ela tinha realmente a forma próxima a um balão. Seu envelope tinha uns quinze metros de altura e se apoiava num cesto de tamanho convencional. Ao se aproximar da pousada, o balão foi perdendo altitude e pousou suavemente. Fui convidado para passar ali mais uns dias. Resolvi ficar, pois estava de férias e sem compromisso. No decorrer daqueles dias soube que havia uma lenda na qual versava sobre um passeio de um balão de pedras sobre a região. Segundo a crença local, de tempos em tempos acontecia um voo levando um cacique de uma tribo de índios já desaparecida. Havia relatos de pessoas que já haviam testemunhado tal feito. Quando conheci alguns vilarejos das redondezas observei onde passei que havia sinais daquela lenda assentada em obras de arte como quadros e peças de cerâmica representando balões. Todo mundo falava sobre a lenda. Cada morador tinha uma estória sobre o tema. A crendice popular afirmava que um pouco antes do balão de pedras tomar voo, acontecia um forte barulho assemelhado ao ronco de um motor. Na última noite que ficaria na pousada, apareceram muitas luzes a piscar no céu em muitas direções e se ouviu um estranho som como se fosse uma explosão. Aquele foi o sinal que todos esperavam. Era certamente o dia do passeio do balão de pedras, comentou Franc. O balão verde foi rapidamente montado e todo o pessoal que estava na pousada, umas sete pessoas, adentrou ao cesto. Em pouco tempo estávamos nas alturas e navegando ao sabor dos ventos. O balão verde foi se direcionando em direção ao litoral e os ventos estavam fortes. Franc achou por bem pousar e assim aconteceu nas areias da praia. De forma repentina o balão de pedras pousou a uns metros do balão verde e lá ficou parado. Todos foram até as proximidades e admiraram aquela estranha estrutura. Brau se dirigiu até o cesto e lá entrou. Nenhum dos outros participantes teve coragem de entrar naquele espaço pequeno. Todo o pessoal ficou a noite toda ali observando o que poderia acontecer. Quando Franc saiu de dentro do cesto ao amanhecer, o balão de pedras simplesmente sumiu. Depois do misterioso sumiço, era hora de voltar. Todos tomaram lugar no cesto e os ventos se encarregaram de mandar o artefato voador de volta. A serra do balão continuou com a velha aparência e tudo voltou ao normal. Voltei para casa no dia seguinte e até hoje mantenho contato com Franc que pesquisa a lenda da serra do balão. Ele me falou que espera um novo voo do balão de pedras, embora reconheça que isso possa não acontecer.