O GOL DO VENTO    

Outro dia me lembrei dos times de Futebol da Praia da Pontinha. Eram memoráveis as partidas acontecidas no torneio local. Geralmente eram convidados times de outras praias para participarem do campeonato e abrilhantar o certame futebolístico acontecido aos domingos no campo assentado na areia da praia. As marcações dos limites do campo eram feitas com cordas e as demais áreas como a linha da metade do campo e as grandes e pequenas áreas ficavam por conta do olhar do juiz de futebol. Descrevo uma época situada no final dos anos 70 e início dos anos 80. As partidas eram grandes eventos juntando muitos moradores que ficavam ao redor da marcação de cordas assistindo ao espetáculo. No meio dos expectadores havia um locutor que registrava a narrativa dos jogos num gravador de fita cassete. Posteriormente, a gravação era reproduzida por uma rádio local. No mês de agosto acontecia ventos extraordinários na Praia de Pontinha quando ficava quase impossível jogar no Campo de futebol daquela localidade. O vento vinha de todas as direções e o movimento esportivo ficava tremendamente prejudicado. Nesse mês de muitos ventos, o Presidente do Pontinha Club recebeu a visita de um dirigente de um time da Praia de Blujabu, chamado Blujabu Club, convidando para uma partida de futebol. O argumento utilizado para tentar convencer o dirigente do Pontinha Club, Mestre Duquinha, foi o pagamento de valor em dinheiro a ser feito pela realização do jogo. O motivo do pagamento seria o uso da imagem do embate futebolístico num documentário sobre o Futebol amador no interior do Estado. Era tudo que Duquinha queria. Seria uma ótima oportunidade para a compra de uniformes novos, chuteiras, meias, etc. O convite foi imediatamente aceito. A partida entre as equipes praianas seria realizada em uma semana. Nesse meio tempo, o Pontinha Club se preparou tecnicamente e fisicamente para a realização da peleja com o time de fora. A população local soube do evento através de farta divulgação por carros de som e se prontificou a ir assistir ao jogo. Foi montado o time da Praia da Pontinha com a seguinte escalação: no gol Pepe Queixinho, laterais esquerdo e direito Babau Beleza e Sena Roque, zagueiros zidinho e Betola, volante Rafa, Meias Dinheiro Vivo, Cebolinha e Júnior, centro-avante Chimbau e o atacante Dindin. Finalmente chegou o dia do jogo. Todos esperavam ansiosamente pela partida. As apostas foram feitas no Bar Pé do Cururu. O Pontinha Club teve a maioria das apostas o apontando como vencedor. Para a surpresa geral, o domingo da realização da partida amanheceu com um vento tenebroso. O assobio causado pelo vento chegava a espantar os moradores. Se aproximava a hora do esperado jogo de futebol e todo o time do Pontinha Club se dirigiu e se encontrou no Campo de Futebol. O vento estava tão forte que praticamente não deixava o pessoal caminhar. Finalmente chegou três e meia da tarde, a hora da realização da peleja e o time convidado não apareceu. Se passaram quinze minutos do horário marcado e nada do adversário aparecer. De repente surgiu de bicicleta o Seu Dantas, que veio de Blujabu, informando que o barco que trazia o time de lá havia afundado com a ventania, e não haveria mais partida. Houve uma comoção geral. O burburinho foi generalizado. Houve uma reunião da Diretoria do Pontinha Club e ficou acertado que haveria a partida de futebol de qualquer maneira. A princípio o time local jogaria, faria um gol e encerraria o evento. Haveria de haver um vencedor para que o dinheiro prometido fosse pago, além das apostas realizadas no Bar Pé do Cururu que havia envolvido muita gente. A torcida queria ver um gol, mesmo de forma simbólica. Como de costume o juiz sorteou o lado do campo que os times iriam jogar. Sorteado os lados, os jogadores tomaram suas posições e começaram a partida jogando contra ninguém. Entretanto, o vento assustador não permitia o desenrolar de uma partida de futebol imaginária. Era impossível levar a bola adiante. O vento se mostrou um defensor implacável. Numa certa hora a bola foi perdida no ataque e foi levada pelo vento passando por todos os jogadores chegando ao fundo das redes do Pontinha Club, que naquele momento passou a perder o jogo por 1 x 0. Num ânimo momentâneo a bola foi levada ao meio do campo para reiniciar o jogo. A dificuldade em manejar a bola era enorme. O Pontinha Club não conseguia colocar a bola na outra trave, mas insistiu em continuar. Assim se passaram os dois tempos da partida e o Pontinha Club perdeu por 1 x 0. Após o jogo se criou a estória fantástica do time da Praia da Pontinha que perdeu para o vento. Esse episódio se soma aos inúmeros causos acontecidos naquela praia.