A FLOR DA CIDADE

Um prefeito da Cidade chamado Macnatt há muito tempo atrás resolveu dar uma vida nova ao meio urbano. Ele era um tipo visionário e já criava espaços na cidade de convivência com praças e passeios públicos. As ruas projetadas eram largas e planejadas. Numa viagem a Holanda ele ficou encantado com as tulipas e seus tons vivos de vermelho, rosa e amarelo. Assim, ele idealizou um concurso cujo vencedor fosse aquele que apresentasse um projeto de decoração utilizando flores para enfeitar praças, canteiros e espaços públicos. Muitos candidatos se inscreveram naquele certame. O interessante é que não era necessária qualquer formação, bastava ter vontade de rabiscar um projeto com a proposta e os possíveis resultados. Anderson, um cidadão de origem holandesa, apostou nas tulipas e girassóis. O seu rabisco ficou uma obra de arte. A sua proposta era uma forte concorrente. Outra proposta interessante foi a de flores do campo, seriam plantadas margaridas, papoulas e outras. Uma senhora chamada Dona Tica apostou nas rosas, destacando as suas variações de branco, cor de rosa, vermelhas e, ainda, valorizava os diferentes tamanhos. Alguns projetos apresentavam orquídeas e outros plantas rasteiras. Na verdade foi com dificuldade que o prefeito não se interessou pelos projetos apresentados por achá-los sem originalidade e de difícil sustentação. A idéia era de uma decoração maciça por toda a cidade com vegetais que não precisassem de tantos cuidados. Num clima tropical seria difícil a manutenção dos jardins idealizados. O concurso se manteve aberto até que surgisse o projeto adequado. Era preciso uma flor que fosse resistente ao nosso clima e que pudesse ser espalhada por todos os cantos da cidade. O assunto principal que dominava as conversas era o concurso e a ausência de um vencedor. O prefeito Macnatt era muito exigente, comentavam. Nesta época chegaram à cidade dois novos moradores, um deles um escultor chamado Renê e o outro um comerciante chamado Elto. Os dois souberam do concurso e pareceram entender a proposta do Prefeito. Assim, Elto inscreveu um projeto apresentando uma flor nova, inclusive, mostrando-as em fotografias em preto e branco. Eram instantâneos de um vegetal brotando da rocha se espalhando e sustentando uma linda flor do campo branca. No novo projeto as flores se espalhavam por canteiros, ruas, praças e por onde pudesse nascer. O prefeito Macnatt se interessou e quis conhecer a nova flor do campo. Nesse intuito foi marcado um encontro ao anoitecer entre o prefeito e os dois forasteiros na Cafeteria Cisne.  Por coincidência, estava naquele espaço o saxofonista e agitador cultural Didi que logo se juntou ao grupo. Elto informou que aquela flor era oriunda de um país distante, mas, que todos eles podiam visitá-lo a qualquer momento. Didi olhou desconfiado para o prefeito que perguntou como seria aquele passeio. Elto tirou do bolso um saquinho de amendoins e os ofereceu aos amigos. Os amendoins pareciam apetitosos e seriam um bom acompanhamento para a bebida. Todos comeram e foram transportados para um local que lembrava um Pub. Ainda, sem entender o que se passava o prefeito e Didi foram convidados a dar um passeio pela área externa. Elto agora era um duende de um metro de altura e Renê virou um gigante, ele agora era um troll. Didi e o prefeito ainda desnorteados com o que acontecia sairam do local para o lado de fora. Fazia um frio congelante e o grupo começou a caminhar numa cidade estranha. A rua era estreita e o casario composto por casas e sobrados com telhado em duas águas com mansardas e muitas janelas. O pessoal circulando na rua era de uma estranheza que dava na vista. Havia duendes, trolls, gnomos, magos e até fadas com asas nas costas. Após passarem pelas casas se chegou a um bosque. Havia uma calçada de pedras cruzando no meio das árvores. Do meio da calçamento brotava uma plantinha com uma linda flor branca. Aquelas flores davam um encanto especial àquele caminho do bosque. O troll Renê apanhou uma daquelas plantas e a apresentou como flor da xana. O prefeito a segurou e disse: é essa flor que vai enfeitar a cidade. Naquele momento, num passe de mágica todos voltaram à Cafeteria Cisne. Todos estavam como antes, só que agora o prefeito segurava na mão a planta flor da xana. Sem comentar o que aconteceu todos se despediram. No dia seguinte foi anunciado o vencedor do concurso, o Senhor Elto. O passo seguinte foi iniciar a plantação da flor da xana. O jardineiro Clementino foi convidado para multiplicar a nova flor. Usando das técnicas apropriadas, Clementino no Horto Municipal criou um centena de mudas. A partir daí iniciou-se a execução do projeto. Inicialmente, foram escolhidas alguns canteiros e praças para plantar a flor da xana. Em pouquíssimo tempo, a flor da xana dominava a paisagem, todos os espaços estavam tomados pela nova vegetação que passou a dar uma nova roupagem à cidade. Didi passou a ser um apaixonado pela flor de xana, que dizia ser a flor da cidade, e, passou a ser o seu defensor, contestando fervorosamente a quem a chamasse de mato. A cidade hoje é abençoada por esta linda flor selvagem, que de tempos em tempos aparece e enfeita os seus cantos e recantos, espalhando um presente aos moradores e conferindo a paisagem uma singela beleza que transforma o feio em belo, pelo menos por um período, até que desaparecem e surgem na próxima brotação.