PRAIA PECULIAR

Existe neste universo uma praia onde as coisas parecem ser diferentes da normalidade. Lugar que conheci e que passo a narrar a seguir. Lá a vila dos pescadores foi construída em volta de uma praça retangular. A praia propriamente dita é bem pequena e tem uns quinhentos metros de extensão, sendo limitada por falésias que invadem o mar. A primeira fileira de construções é assentada em enormes pedras pretas que absorvem a batida das ondas na maré cheia. Ali estão galpões, pousadas, armazéns, mercados e outras edificações. As entradas e saídas estão entre os espaços das construções, onde passam os pescadores, banhistas e demais frequentadores. Na maré cheia se forma na parte de trás da primeira fileira um alagamento acomodado num canal de concreto que recebe as águas da praia e se estende por todo o comprimento da rua. As águas do canal ficam num permanente vai e vem se tornando um equipamento de banho. A beira do canal foi pavimentada e ali construídas barracas de praia. De frente para o mar os banhistas realizavam permanentes mergulhos e acrobacias em direção as águas que batiam nas pedras. No mar estavam ancorados dezenas de barcos de pesca dando uma paisagem artística ao local. Conheci aquela praia por ocasião de um trabalho que tive que fazer e ali cheguei de forma estranha. Confesso que não lembro como pousei naquele lugar, só sei que de repente acordei na Pousada da Nena, que me recebeu como um filho. Nas casas ao redor da praça havia bares, bodegas, lojas diversas e pequenos restaurantes. Pude vivenciar no tempo que ali passei algumas situações especiais. Durante a noite havia um movimento dos moradores da praia na beira do canal. Tudo era muito iluminado e a música tocada lembrava a música caribenha, sendo bastante apreciada pelos frequentadores. Havia nas barracas um espaço para dança onde se assistia casais dançando magistralmente. No céu se podia ver milhares de estrelas e a lua cheia era de um tamanho e brilho inigualáveis. Num determinado momento, como se houvesse acordado de um transe, quis voltar para casa. Falei com o mestre Jonas que queria sair dali. Ele se manteve calado e me levou para a última fileira de casas da cidade e ali me mostrou um riacho que limitava aquela localidade. Perguntei como poderia sair dali. Ele me respondeu que não havia maneira de abandonar aquela bela praia. Olhei para os lados e vi a falésia invadindo o mar delimitando a área do vilarejo. Voltamos para a pousada e a partir daquele dia passei a pensar formas de sair dali. Com o passar do tempo fui percebendo algumas coisas improváveis como o céu vermelho na alvorada e violeta no pôr do sol, o mar de cor alaranjada e ondas brilhantes com tons variados, a cerveja era de cor azulada e de marcas que eu não conhecia, a lua cheia apresentava uma cor mais amarelada do que o normal, o cabelo das pessoas era de cor castanho avermelhado e os olhos em tons acinzentados. Era hora de tentar sair dali. Primeiro tentei as falésias e não consegui. Estas eram muito íngremes, além de não conseguir me sustentar em suas paredes que se desmanchavam ao toque. Depois pensei em atravessar o riacho. Ali eu dava um passo pra frente e parecia chegar na margem em que saia. Depois tentei o mar, pensava que poderia pegar carona em algum barco de pesca, no entanto, para minha surpresa, não encontrei nenhuma alma viva neles. Tive que voltar para a Pousada da Nena. Parecia estar preso numa realidade paralela e ali fiquei por algum tempo, até a passagem de um nevoeiro que apagou toda a vila do mapa, deixando-me só numa estrada ao lado de um carro acidentado. Fui levado a um hospital e hoje estou recuperado e trago esse episódio comigo, achando que o que aconteceu foi real, será?