A FADINHA DO DENTE

A menininha Leninha de cinco anos estava com um dente incisivo de leite para cair. Ele estava bem molinho e os seus pais pediram para arrancá-lo. A pequenina disse que ninguém iria mexer no seu dentinho, pois ela ficaria muito feia. Minhas coleguinhas iriam zombar de mim, dizia. O jeito foi levar Leninha ao Dentista da família Dr. Asdras, um tipo franzino, baixinho e usava sempre camisa, calça, cinto e sapatos brancos. Na cadeira do dentista, o doutor discorreu sobre a necessidade de extrair aquele dente, pois ali iria nascer outro que seria para a vida inteira. Dr. Asdras contou a lenda de uma fadinha, que levava o dente colocado debaixo do travesseiro para o seu país e, em troca ela deixava alguma coisa de valor, podia ser um bombom, um chocolate ou uma moeda, a mãe tem que ser avisada do pedido, completou. Mesmo assim, Leninha insistiu em não arrancá-lo. Dr. Asdras acalmou os pais informando que o dente cairia em poucos dias. Chegando em casa a mãe de Leninha insistiu no assunto, porém, a negativa continuou. Na noite daquele dia chegou uma visita, era uma vizinha chamada Alda, que logo disse saber do dentinho que estava para cair. Ela conhecia uma técnica infalível, já usada em seus sobrinhos, para arrancar dentes de leite. Alda era conhecida pela sua feiura, tudo nela estava fora do lugar. Algumas pessoas diziam que ela era uma bruxa que se chamava Zinébria, cuja aparição se dava quando tomava uma bebida cuja garrafa tinha um gato sorrindo no rótulo. A mãe de Leninha, chamada Nane, disse para a filha que a amiga Alda podia arrancar o seu dente de leite num passe de mágica, mas Leninha não quis conversa com a visitante intrometida, indo para o seu quarto batendo os pés. Alda ofereceu mandar sua sobrinha Keka para convencê-la e foi embora. Na manhã seguinte, chegou a casa uma menininha de uns seis anos, era a sobrinha de Alda. As duas meninas foram colocadas para brincar juntas e não durou muito tempo para Leninha reclamar que Keka estava querendo tirar seu dente. Nane pediu para Keka não mexer no dente de leite da filha. Pouco tempo se passou e a menina desapareceu. Leninha foi avisar a mãe que Keka havia pulado a janela. Nane preocupada saiu de casa a procura da menininha desaparecida. Um vizinho disse sem graça que viu uma bruxa correndo pela rua. Pouco tempo depois apareceu Alda com boas notícias, Keka havia chegado em casa e estava bem. Ela aproveitou a oportunidade para saber sobre o dente de leite teimoso, e, soube que ele estava resistindo a cair, mesmo muito mole. Ainda, pediu para ficar com o dente quando ele caísse para enfeitar um colar, mas a resposta foi que o dente iria ser lançado no telhado, uma velha simpatia da família. Alda abriu um sorriso e foi embora. A partir daquele dia uma estranha criatura passou a ser vista por vizinhos na madrugada voando sobre o telhado da casa de Leninha. Houve até quem dissesse que era uma bruxa voando numa vassoura. Naqueles dias, Alda foi vista consumindo a bebida com o rótulo do gato esquisito no Bar de Seu João. Ela aos gritos insistentemente dizia que estava para se transformar numa bela mulher. Alguns bêbados do bairro se divertiam zombando dela, diziam que só nascendo de novo. Finalmente, o dente de leite caiu e Nane fez o que o dentista Asdras havia falado, colocou o dente debaixo do travesseiro para trocá-lo mais tarde por um bombom. A bruxa Zinébria transformada na menina Keka ficou sabendo o que iria acontecer quando o dentinho caisse. Assim, a bruxa, sabendo da novidade, foi na noite daquele dia buscar o objeto precioso para compor a sua grande magia. O dente de leite era um dos componentes da fórmula mágica que iria lhe transformar numa mulher belíssima. Na madrugada, a bruxa Zinébria entrou no quarto de Leninha e sorrateiramente apanhou o dente debaixo do travesseiro. Quando ela se preparava para sair pela janela apareceu a fadinha do dente e lhe pediu o que estava na sua mão. A bruxa saiu voando pela janela em cima da sua vassoura. A fadinha do dente bateu as asas e saiu voando em perseguição a bruxa que logo foi ao chão e instantaneamente apareceu Alda. A fadinha tomou o dente e voltou ao quarto de Leninha que assistiu a tudo pela janela. A fadinha ofereceu uma moeda a Leninha e disse que ia levar o dentinho ao seu país. Ele iria ser guardado para sempre para que todos os outros dentes nascessem saudáveis e duradouros. A fadinha do dente deu adeus e saiu voando pela janela deixando um rastro de estrelas prateadas pelo quarto, rua e no céu até desaparecer na noite estrelada. Leninha acordou sua mãe, contou o acontecido e mostrou a moeda que havia ganho. A moeda era de ouro, de um lado apresentava a cara de uma fada e do outro o desenho de um dente incisivo. Nena colocou Leninha para dormir e no dia seguinte guardou a moeda como uma recordação de um tempo mágico na vida de uma criança. Leninha contava aquele episódio por onde passasse até tornar-se uma adolescente e esquecer da fantasia dos seus tempos de criança. Eu nunca esqueci daquela estória e hoje a descrevo neste singelo escrito.