SEU PEPÊ E O PAPA CABRA
Seu Pepê, uma figura marcante do final da minha adolescência, tal as suas aventuras mentirosas contadas na maior cara de pau. Os rapazes da minha idade se juntavam no bar Pé do Carcará para ouvir a estória do dia. Numa dessas insanidades do nosso loroteiro, escutamos sobre o seu sono com um olho só. É isso mesmo, um olho aberto para vigiar o local e outro fechado para descansar. Seu Pepê se dizia valente e lutador de artes marciais, foi aluno do lendário lutador de Jiu jitsu Diabo Ruivo, um tipo que brigava até com o vento, num tempo onde as brigas de rua no máximo levavam a um olho roxo e no dia seguinte estava tudo bem. E por conhecer de briga, ele era guarda noturno, por sinal muito bem conceituado por onde passava, pois, sempre tinha um episódio de bravura para contar, sejam fatos deste mundo como sobrenaturais. Botar ladrões para correr era corriqueiro para Seu Pepê, ele enfrentava de uma vez bandos de larápios. Amarrar as patas de um leão que fugiu de um circo foi outra ação mirabolante do nosso herói. No campo do sobrenatural, Seu Pepê explicou que o caso de uma troca das placas de sinalização que provocou uma mudança do sentido do trânsito de uma rua, que ele tomava conta, foi feita por sacis pererês. Eles apareceram em um estranho redemoinho numa madrugada. Aparições de fantasmas eram constantes no trabalho de Seu Pepê. Ele chegava a contar encontros com pessoas falecidas aos seus familiares e conhecidos, chegando a dar recados para eles. Nas noites de lua cheia Seu Pepê fazia a festa com boêmios que realizavam serenatas no bairro. Ele se juntava aos farristas contando suas estórias e vigiando os companheiros da presença maléfica dos seres da lua cheia, que eram muitos, segundo ele. Dentre os acontecimentos surpreendentes que ele narrou, destaco a transformação de uma mulher num gato preto, do voo de uma pessoa em direção à lua cheia, da transformação de um homem em lobisomem, de um fogo fátuo que lhe perseguiu por uma noite inteira, de uma graúna em cima de um muro maldizendo o dono da casa e uma coruja rasga mortalha dando voos seguidos sobre uma casa resultando na morte de um dos seus moradores no dia seguinte. Mas, a aventura mais fantástica aconteceu na época que surgiu na cidade um boato do surgimento de um papa cabra. Esse ser do mal foi batizado com esse nome porque comia animais de criação e domésticos, e o curioso era o estado em que as carcaças ficavam. Elas ficavam totalmente dilaceradas. O fato começou na zona rural da cidade com cabras, o que originou o nome da criatura. Os jornais locais começaram a divulgar os casos que começaram a aumentar. Eram diversos animais mutilados, entre eles galinhas, gatos, cães e até ratazanas. As manchetes dos jornais falavam da possibilidade de um ser extraterrestre que realizava o ataque nas madrugadas. Alguns falavam em um lobisomem e outros em alguma doença estranha que fazia com que alguém precisasse de carne viva e sangue fresco para sobreviver. Seu Pepê resolveu esse caso insólito preparando uma armadilha. Ele colocou um porquinho dentro de uma gaiola de madeira, a deixou ao relento e ficou vigiando de longe. Ele narrou que de repente surgiu do nada um homem magro e alto com uma capa preta que retirou o porquinho e o levou nas mãos. Seu Pepê apitou bem alto e o ente perseguido passou a correr e pouco depois se levantou do chão como se estivesse começando um voo até ser segurado pelo pé. Seu Pepê lhe deu uma surra com um cassetete de madeira e o ser estranho implorou para voltar ao seu planeta num disco voador que logo apareceu e lhe sugou através de uma forte luz para o seu interior. Depois disso, o papa cabra não apareceu mais. Soube que Seu Pepê ainda está vivo e contando suas aventuras. Qualquer dia vou lhe fazer uma visita e saber dos seus últimos causos, não vejo a hora.