A GRUTA DE TUPÁ

A menina Lane cresceu nas redondezas da Serra de Tupá. A sua cidade ficava no chamado pé da serra e de lá se podia admirar um paredão gigantesco de pedra de uma admirável beleza. Havia também a Serra da barriga a enfeitar uma paisagem pedregosa, essa de uma beleza inigualável imitando uma silhueta humana. A menina se divertia nas enormes pedras que compunham o relevo da cidade. A sua mãe tinha sempre muito cuidado, pois era comum quedas e resfriados causados pela temperatura alta das rochas expostas ao inclemente sol usadas para a brincadeira da meninada. Seu pai gostava de fazer passeios pelas serras da região e de lá de cima se via uma paisagem belíssima composta da cidadezinha e de todo o traçado visto do alto. Lá em cima a temperatura era mais amena chegando a fazer frio em algumas épocas do ano. Lane contava para a sua mãe umas estórias que a deixavam curiosa. Falava de um passeio em uma gruta nas proximidades da sua casa e sua passagem por um lugar bastante diferente de onde morava. O local narrado era muito frio com muitas árvores e casas de boneca. Dizia, também, que visitava uma amiga chamada Eva, descrevendo-a como uma menina loura, de olhos azuis, falando uma língua diferente, mas, que era sua amiga, e as duas se divertiam muito. Essa estória se repetiu por muitas vezes até sua mãe mandar a irmã mais velha acompanhar Lane nesse estranho passeio. Rute foi passear com a irmã na gruta. Lá chegando Lane mostrou a entrada para a cidade onde morava a amiguinha Eva, era um túnel de aproximadamente um metro e setenta de altura aberto na rocha. Rute, que tinha doze anos, não quis entrar naquele espaço escuro e feio. Havia morcegos dando rasantes sobre as suas cabeças. Lane quis continuar a aventura, porém Rute segurou-lhe pelo braço e disse que elas iriam sair dali. De repente, ouviu-se do nada o nome Lane, e, essa logo disse: essa é minha amiga Eva. Rute assustada saiu correndo daquele local e foi para a sua casa segurando a mão da sua irmã. Chegando a casa foi contado o acontecido a mãe das duas crianças que imediatamente proibiu a filha de passear naquela gruta. Seu pai ficou sabendo daquele episódio e também proibiu a filha de ir ali. Pouco tempo depois todos ficaram sabendo que aquela gruta era mal assombrada, os mais velhos contaram que ali se ouviam vozes e murmúrios tenebrosos. Ainda, contavam-se estórias de pessoas que entraram ali e passaram dias sumidos, sempre voltando com estórias apavorantes. As narrativas tratavam de avistamentos de fantasmas, muito frio e caçadores atirando em quem aparecia nas suas terras. Lane como era uma menina obediente, não retornou mais ao local proibido. Depois de crescida, ela foi estudar na capital e se tornou bióloga. Os estudos de pós-graduação foram feitos na Alemanha, local onde ela se casou e ficou morando. Em pouco tempo ela conheceu uma vizinha de nome Eva, uma jovem senhora muito loura e de olhos azuis, uma típica alemã. Para a surpresa de ambas, o encontro foi indescritível. Na verdade, foi um reencontro após passadas algumas décadas. Eva era a amiga imaginária de Lane, só que naquele momento se comunicavam em alemão e, dessa forma, podiam se entender. Foi um mistério indecifrável para as duas. Lane entendeu que de alguma forma fazia uma viagem até aquele local longínquo e ali encontrava Eva. Uma magia que só crianças podiam alcançar, imaginava. A amizade continuou e as duas fizeram um pacto de segredo. Ninguém iria saber daquele acontecimento. Eva levou Lane ao local onde quando criança as duas se encontravam, era também uma gruta. As duas se aventuraram a percorrer os seus corredores e chegaram a cidade do interior. Só que naquele momento elas voltaram como crianças e logo chegaram em casa, não se lembrando da vida adulta. Dessa vez, os pais de Lane ficaram bastante chateados com o sumiço da filha que já fazia algum tempo. Por outro lado, foi imensa a alegria de ter a filha de volta. Dessa vez, a filha voltou com uma amiguinha. A menina loura não falava português e não se soube quem ela era. Foi feita uma pesquisa na região e seus pais não foram encontrados. O Padre alemão Rilke da Paróquia local se comunicou com a menina que contou a sua estória. Como não havia escolha, o Padre a levou até a gruta e a acompanhou em direção ao seu país. Do outro lado, a menina encontrou seus pais. O Padre Rilke a entregou em segurança voltando pelo mesmo caminho à cidade de origem. Lane cresceu tendo a sensação de já ter passado por muitos acontecimentos da sua vida. Na passagem em que foi com Eva a gruta na Alemanha, ela achou melhor não entrar ali, tendo a cumplicidade de Eva que concordou com a amiga. A vida de Lane seguiu na Alemanha e a amizade com Eva foi mantida.  Lane visitava solitária a gruta mágica abraçando a sua infância e seu distante país. Na primavera na Alemanha uma borboleta amarela aparecia e a levava ao túnel que a podia transportar para a sua cidade natal viva no seu coração. Num dia de muito sol ela voltou a sua cidade pelo atalho mágico como adulta, e ficou lá por alguns dias até voltar pelo túnel secreto pronto para ser usado por quem acreditou na sua existência. Numa ida à Serra de Tupá, encontrei-me com Lane que me confidenciou essa estória que agora descrevo. Naquele mesmo dia recebi uma mensagem sua da Alemanha dizendo que tinha voltado e que já estava com vontade de voltar a sua cidade. Respondi pedindo que ela me avisasse quando estivesse de volta. Seria muito bom revê-la.