O PÊNDULO E A PORTA

Encontrei um pêndulo de cristal sustentado por uma corrente de prata quando caminhava na praia. Foi um achado inusitado, bem quando pensava em dirimir uma dúvida que me faria mudar a vida. Essa pedra estava sob a areia dourada e a apanhei com a mão descobrindo um belo cristal facetado. Segurei a pedra fechando a mão e continuei a minha caminhada. Pensei em devolvê-la à praia, mas logo entendi que seria um desperdício. Quem sabe com ela eu não resolveria de vez todas as minhas inquietações. Sentei-me na sala de estar com o pêndulo na mão e olhei para a porta aberta pensando insistentemente nas questões que me corroiam a alma. A solução da incógnita em que permanecia poderia me fazer avançar em direção a novos horizontes de conhecimento e vivência.  Essa inquietação se referia a uma mudança de lugar, fazendo com eu saisse daqui, local que vivo e gosto, mas a possibilidade era tentadora. Poderia angariar uma boa reserva financeira que me daria um conforto nos proximos tempos e me permitiria ganhar novas experiências profissionais, além de conhecer novas cidades e pessoas. No entanto, uma inércia me prendia a este solo. Estava apegado à vidinha provinciana, ao conforto do lar e a boa qualidade de vida. A porta aberta que estava a minha frente seria a passagem para um novo tempo. Ela me dizia vá. E o meu infinito sentido me dizia não. Havia dúvidas. Por que a vida  me colocou numa encruzilhada? fazendo-me escolher entre  ir ou ficar, avançar ou estagnar, viver ou correr riscos. Mas, estava simplesmente acomodado com a vida boa que levava. Afinal tinha um bom emprego, uma boa casa, bons amigos e ainda passeva na seara da criatividade escrevendo contos baseados em tudo que passei na minha vida, e, planejava escrever novas estórias a partir de toda a bagagem que tenho em mente. Uma mudança não seria boa, ou seria? Triste dúvida.  De repente o pêndulo escorreu entre os meus dedos e caiu no chão. Assustado, peguei-o rapidamente e ele estava intacto, ainda bem. Ele estava como eu o encontrei. O cristal reluziu fortemenente a luz do dia e parecia me convidar para uma conversa. Uma consulta ao pêndulo poderia me dar algum luz àquela situação. Entretanto, sentia-me travado, sem disposição para uma consulta ao profundo eu. Gostaria realmente de resolver aquela situação em cima de uma racionalidade, a qual, sinceramente, não cultivo. Talvez as planilhas de computador me indicassem dados matemáticos que criassem pontuações entre ficar ou não. As contas indicavam a mudança enquanto que a minha intuição me mandava ficar e viver por aqui da maneira que sempre vivi, sem bens, mas muito bem de cabeça e coração. A consulta ao pêndulo seria a alternativa que me ajudaria a tomar uma decisão que não seria calcada na razão, mas baseada num instrumento da alma. Nessas horas, confesso que ponho em dúvida toda a minha fé que deposito nesses meios sobrenaturais. Realmente gostaria de estar mais decidido. Lembrei que a data para uma tomada de decisão estava próxima e certamente não ficaria bem eu esperar para decidir na última hora. Voltei a segurar o pêndulo e fiz-lhe a pergunta: devo ir? Fiquei esperando a resposta do pêndulo e tomei o susto com a porta se fechando devido a uma súbita rajada de vento que adentrou a casa. Pouco depois, o pêndulo resolveu reagir e começou um movimento circular antihorário, indicando uma resposta negativa. A soma dos acontecimentos cimentou a decisão final de ficar e tocar a minha vida como estou vivendo. Após responder declinando do convite, senti-me leve e parecia a todo momento levitar devido ao peso que tirei das costas. A consulta ao pêndulo corroborada pela porta me fez decidir o futuro. Hoje estou feliz e tranquilo por estar vivendo na minha singela e querida casa de praia.